Como liderar um time de produto quando as regras do jogo estão sempre mudando? Em mercados como o de saúde digital, o desafio vai muito além de apenas entregar soluções eficientes. A missão é clara: criar estratégias que conectem visão de produto, alinhamento entre áreas e autonomia com responsabilidade, tudo ao mesmo tempo.
Julio Quintella, Head de Produto na Vittude, compartilha suas abordagens sobre como manter o time focado em três pilares fundamentais. Nesta entrevista, ele revela como constrói equipes que conseguem se adaptar às incertezas e tomar decisões estratégicas com rapidez sem perder de vista a missão final: entregar valor de verdade.BossaBox — Quais critérios ou metodologias você considera mais relevantes para garantir que o time de produto esteja adequadamente estruturado para atender às demandas e expectativas de entrega com eficiência?Julio Quintella — Um time de produto bem estruturado precisa operar com base em três pilares fundamentais: visão clara, alinhamento eficaz e autonomia com responsabilidade. Esses pilares garantem que as demandas e expectativas de entrega sejam atendidas de maneira eficiente e estratégica
Primeiro, é essencial que o time tenha uma visão clara do que está fazendo e o propósito por trás de cada decisão. Eles devem conhecer profundamente as dores dos clientes, o mercado em que atuam e o valor que o produto entrega. Para que isso seja feito de forma efetiva, é necessário, antes de tudo, compreender os objetivos estratégicos da empresa, o que permite um direcionamento consistente e motiva o time a tomar decisões alinhadas ao impacto que precisam gerar.
O segundo pilar é o alinhamento eficaz, especialmente porque produto é, por natureza, uma função de interface entre diversas áreas. O time precisa ser comunicativo e transparente, promovendo colaboração constante com outros departamentos. Todos os movimentos, desde os estratégicos até os operacionais, devem ser compreendidos pelos stakeholders. Para isso, as habilidades de comunicação e colaboração são fundamentais para o sucesso e a eficiência.
Por fim, a autonomia com responsabilidade é imprescindível. O time precisa ter a liberdade de resolver problemas e tomar decisões, mas deve estar preparado para assumir a responsabilidade pelos resultados. Essa combinação estimula a proatividade e o pensamento voltado à execução, garantindo não apenas boas soluções, mas também resultados mensuráveis e concretos.
Como líder, é importante estimular e preparar o time para operar nesses três pilares, criando processos claros e bem definidos para garantir eficiência e manter o alinhamento com as áreas envolvidas.
BossaBox — Quais áreas de expertise, temas ou habilidades você acredita que os Heads de Produto devem explorar para que permaneçam competitivos no futuro?Julio Quintella — Há três áreas principais que considero fundamentais: capacitação do time, comunicação e negociação, e proximidade com o mercado.
O desenvolvimento e a capacitação são cruciais. Como líder, você precisa garantir que o time esteja no caminho certo para o crescimento. Isso envolve conhecer profundamente cada pessoa e garantir que ela esteja na posição adequada, sendo estimulada e direcionada de forma estratégica. Uma decisão errada pode levar à improdutividade e frustração, afetando a evolução do time e gerando rotatividade.
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A comunicação e negociação são essenciais para posicionar o time de produto como protagonista nas decisões da empresa. Um líder deve garantir que o time esteja alinhado com outras áreas e que as prioridades estejam sempre claras. Ao dominar a negociação, o time consegue influenciar as decisões estratégicas e garantir que o produto tenha o impacto necessário no negócio.
Por fim, proximidade com o mercado é fundamental. É necessário estar conectado às tendências e mudanças do mercado para garantir que o produto esteja sempre atualizado e relevante. Essa proximidade também permite antecipar oportunidades e desafios, mantendo o time engajado e pronto para inovar.
BossaBox — Quais são as principais habilidades que você procura ao formar um time de produto de alto desempenho?
Julio Quintella — Ao formar um time de produto de alto desempenho, a principal coisa que busco é garantir que todos operem na mesma frequência. Mesmo que o time seja formado por pessoas talentosas, sem alinhamento, as coisas não funcionam. Para garantir esse alinhamento, há três habilidades fundamentais: colaboração, pensamento crítico e proatividade com autonomia.
Colaboração é a base para o funcionamento eficiente de um time de produto. Como o time atua como interface entre diversas áreas, a colaboração precisa fluir tanto entre times internos, como design e tecnologia, quanto com stakeholders externos e específicos. Colaborar de forma eficaz gera alinhamento, reduz mal-entendidos e melhora a eficiência nas entregas. Além disso, ser colaborativo permite identificar problemas mais rapidamente, já que diferentes perspectivas são levadas em consideração. No dia a dia, a colaboração impacta diretamente na qualidade das soluções, garantindo que todos estejam comprometidos com um objetivo comum.
Pensamento crítico é o motor que garante que as decisões sejam bem embasadas, evitando retrabalho e discussões desnecessárias. Um time com pensamento crítico questiona as decisões com base em dados e evidências, o que reduz o espaço para suposições e desalinhamentos. No dia a dia, o pensamento crítico dá segurança ao time, permitindo que ele se mova com confiança. Isso também gera um ambiente de trabalho mais saudável, onde as decisões são baseadas em fatos e não em achismos.
Proatividade e autonomia são o que movem o time de forma contínua, garantindo que ele não apenas reaja a desafios, mas também os antecipe. Um time proativo, que tem autonomia para agir, está sempre buscando melhorias e identificando oportunidades antes que os problemas se agravem. Esse comportamento garante que o produto continue competitivo e que o time esteja sempre pronto para enfrentar novos desafios.
BossaBox — Quais são, na sua opinião, os três maiores desafios que um Head de Produto precisa superar hoje em dia, e como você tem enfrentado essas questões na sua experiência?Julio Quintella — Na minha experiência, os três maiores desafios que um líder de produto enfrenta atualmente são: capacitação e desenvolvimento do time, priorização eficaz e gestão da complexidade e escala.
Capacitação e desenvolvimento do time pode até parecer fácil e óbvio, mas é a maior responsabilidade de um líder. Conhecer bem as pessoas e garantir que cada membro esteja sendo estimulado e direcionado da melhor maneira é essencial. Mover alguém para a direção errada pode gerar frustração e improdutividade, com o risco de perder bons profissionais que sentem que não estão crescendo. No dia a dia, isso resulta em uma equipe desmotivada, o que afeta diretamente a performance e a coesão do time.
Outro grande desafio é a priorização eficaz. Em um ambiente onde tudo parece urgente, saber o que realmente deve ser priorizado é fundamental. A falta de uma priorização clara pode gerar confusão e desalinhamento, tanto dentro do time quanto em relação aos stakeholders. Isso afeta diretamente a eficiência das entregas e aumenta a pressão sobre a equipe. É necessário garantir que a priorização seja guiada por dados e pelo impacto no negócio, além de estar alinhada com a estratégia da empresa.
Por fim, a gestão da complexidade e escala é um desafio constante à medida que o produto cresce. Com o aumento da complexidade, fica mais difícil gerenciar múltiplas funcionalidades e fluxos de trabalho sem perder agilidade. A falta de processos claros para lidar com a escala pode criar gargalos e atrasos, prejudicando a evolução do produto. No dia a dia, isso resulta em entregas mais lentas e maior pressão sobre o time.
BossaBox — Para garantir que o time de produto esteja impactando diretamente os resultados da empresa, quais métricas de negócio você prioriza e monitora regularmente?
Julio Quintella — Garantir que o time de produto impacte diretamente os resultados da empresa requer, antes de tudo, saber quais são as métricas corretas para o seu contexto e como impacta-las de forma prática. A escolha dessas métricas depende do estágio e dos objetivos estratégicos da empresa. O papel do time de produto é transformar esses grandes objetivos em métricas acionáveis no dia a dia, que o time possa influenciar diretamente.
Se a prioridade é o crescimento, métricas como conversão de novos clientes ou upsell serão essenciais. Se o foco é retenção, é fundamental acompanhar indicadores como churn, engajamento e uso de funcionalidades chave. O desafio é garantir que essas métricas estejam sempre conectadas à estratégia da empresa e que o time entenda como suas ações impactam os resultados.
Para isso, frameworks como OKRs (Objectives and Key Results) e NSM (North Star Metric) são extremamente úteis.
OKRs permitem conectar os grandes objetivos da empresa com metas claras e mensuráveis, que ajudam a quebrar o que a empresa quer atingir em resultados específicos e rastreáveis. Eles proporcionam foco e clareza sobre o que deve ser priorizado, ao mesmo tempo que mantêm todos alinhados com a visão macro.O NSM é um framework eficaz que ajuda a identificar o principal indicador de valor entregue ao cliente. A partir desse direcionamento, outras métricas intermediárias se tornam mais evidentes, permitindo que o time trabalhe nelas de forma coordenada, avançando gradualmente para atingir a métrica principal, que reflete o sucesso global do produto.
BossaBox — Como você enxerga a evolução do papel de Head de Produto em mercados que ainda estão em fase de transformação digital, como o da saúde?
Julio Quintella — A evolução do papel de líder de produto em mercados em transformação digital, como o da saúde, exige um equilíbrio entre dados, boas hipóteses e a preparação do time para lidar com incertezas. Sem um manual definido, o papel da liderança é criar uma cultura de exploração contínua, promovendo experimentos e proximidade com clientes e o mercado. O foco não está em executar essas atividades diretamente, mas em garantir que o time tenha as ferramentas e o ambiente adequados para conduzir esses processos, ajustando o rumo conforme necessário.
O discovery é uma peça central. Estimular conversas frequentes com usuários e promover trocas com pessoas-chave do mercado ajuda o time a absorver informações críticas. Mesmo sem soluções claras, os problemas já estão bem definidos, e essas interações são fundamentais para que o time inove e se adapte rapidamente.Além disso, é importante balancear o discovery com a elaboração de boas hipóteses. Mesmo com dados limitados, criar hipóteses sólidas evita que o processo fique engessado. Por exemplo, utilizamos uma matriz para definir o nível de certeza que temos sobre um tema, e a partir de um certo ponto, avançar com as interações se torna mais produtivo e eficiente em termos de recursos.
Uma boa priorização também é essencial para garantir que o time esteja focado nas iniciativas mais impactantes.
O time precisa ter autonomia para continuar buscando soluções em cenários de incerteza. Aprender com cada movimento, seja ele um sucesso ou um erro, é essencial para o crescimento da equipe.Por fim, o uso eficaz de dados é vital para permitir ajustes rápidos e decisões mais estratégicas. Isso não só ajuda o time a ajustar sua abordagem, como também a maximizar os resultados.Liderar em mercados de transformação digital exige equilibrar exploração, priorização e autonomia, criando um ambiente onde o aprendizado e a adaptação contínua sejam valores centrais.