6 perguntas para Glaucia Sayuri, CPO na Memed
Por Redação BossaBox - Beatriz Chueri

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Gerir um time de produto em setores como a saúde digital não é tarefa simples. São diversas as camadas de complexidade que uma liderança de produto precisa considerar, desde a necessidade de garantir a conformidade com regulamentações rigorosas até a criação de soluções que atendam a um ecossistema variado e altamente sensível. Essa liderança estratégica é a chave para não só alinhar as demandas do negócio, mas também para gerar impacto real e escalar as soluções de maneira segura.

Na entrevista, Glaucia Sayuri, CPO da Memed, traz insights sobre como liderar times de produto em meio a esses desafios e a importância de integrar inovação, segurança de dados e alinhamento regulatório ao mesmo tempo que se mantêm atentas à experiência dos usuários.

BossaBox — Quais você considera os principais pontos de atenção para CPOs que lideram times de produto em um setor dinâmico como o de saúde digital?

Glaucia Sayur O setor de saúde digital é desafiador por ser altamente regulado, ter muitos agentes e por estar passando por uma transformação importante com o avanço da tecnologia. Isso demanda muitas discussões e alinhamentos setoriais para que o ecossistema capture os benefícios dessa evolução.

Como CPO, é muito importante que tenhamos o olhar em alguns aspectos relevantes para atuação neste segmento, sem perder de vista o principal propósito da área de produtos, que é gerar valor na ponta (para os diversos usuários), gerando valor para a companhia. Um deles é a conformidade regulatória, nós precisamos equilibrar inovação com o cumprimento das normas legais, o que requer uma proximidade constante com áreas jurídicas e de compliance. A experiência dos diversos usuários também demanda um olhar diferenciado, pois os agentes do ecossistema de saúde são muito variados e orquestrar o atendimento das necessidades, criando soluções que sejam intuitivas é essencial, pois todos estão lidando com questões sensíveis. 

Importante também a garantia de escalabilidade, resiliência sistêmica e segurança de dados. Isso deve ser sim uma preocupação de produto, pois afeta diretamente a percepção e a entrega de valor. Garantir que nossas soluções cresçam de maneira escalável e segura, principalmente no que diz respeito à privacidade e ao gerenciamento de grandes volumes de dados de saúde, boas práticas e monitoramento. Além disso, o  ecossistema de saúde tem muitas plataformas e sistemas legados, é um setor em transformação, então facilitar e promover a integração é essencial para o sucesso de qualquer solução. 

BossaBox — Ao lidar com produtos que atendem tanto B2B quanto B2C, quais são, na sua visão, os maiores desafios para as lideranças de tecnologia e produto?

Glaucia Sayur Lidar com modelos B2B e B2C em um mesmo produto requer uma visão estratégica clara, porque as necessidades, expectativas e ciclos de venda são bastante diferentes. Os maiores desafios que eu vejo estão relacionados à customização e escalabilidade, uma vez que atender ao mercado B2B muitas vezes exige customizações para diferentes clientes empresariais, enquanto o B2C precisa ser altamente escalável e é um pouco mais uniforme. 

Além disso, o equilíbrio entre as diferentes expectativas e os impactos na experiência é um dos pontos cruciais para a relevância da solução para que não se crie algo que, em escala, fica impossível de manter equalizado e evoluindo. 

Em relação aos ciclos de vendas e adoção, a natureza do B2B geralmente apresenta ciclos de vendas e adoção mais longos e exigem relacionamento mais próximo, enquanto no B2C o foco está na aquisição e retenção de usuários de forma mais autônoma e escalável.

A equipe de produto precisa equilibrar estratégias de curto e longo prazo para garantir o sucesso em ambas as frentes.

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BossaBox — Quais habilidades você considera essenciais para o sucesso de um CPO na liderança de times de produto? 

Glaucia Sayur Existem diferentes perfis de CPO, e cada um se adequa melhor para cada contexto e momento da empresa. Entretanto algumas habilidades são essenciais em qualquer cenário, como a visão estratégica e de negócio, ter clareza sobre onde o produto deve estar nos próximos anos e como isso impacta o crescimento do negócio; a empatia com o cliente, entendendo profundamente as dores e necessidades dos usuários, tanto no lado B2B quanto B2C, permitindo a construção de soluções que realmente gerem valor. 

Além disso, é fundamental a habilidade em dados e métricas, pois saber mensurar o sucesso do produto e usar dados para guiar decisões é indispensável. Não basta intuição, é preciso embasamento.

O CPO também precisa fazer a gestão de stakeholders, ele deve ser um mediador entre as equipes de tecnologia, marketing, vendas, clientes e usuários, sabendo ouvir e conciliar interesses diversos enquanto garante a inovação contínua. O setor de saúde é dinâmico e as tecnologias mudam rapidamente, então o CPO precisa fomentar uma cultura de experimentação e adaptação constante sem que isso afete a geração de resultados de curto prazo, a ambidestria é fundamental.

BossaBox — Como você estrutura e dimensiona o time de produto na Memed? Quais métricas ou critérios utiliza para garantir que o tamanho da equipe esteja alinhado às necessidades de crescimento do negócio e inovação?

Glaucia Sayur Estruturar e dimensionar um time de produto requer tanto olhar para a estratégia de longo prazo quanto responder às demandas imediatas. E aqui também entra o componente momento da empresa: é sobre expansão, estabilização, construção, etc. 

O mais importante é que a estrutura precisa refletir a estratégia, então alguns princípios são importantes como a capacidade versus demanda, avaliando de forma pragmática se o time tem a capacidade de entregar o roadmap sem comprometer a qualidade ou velocidade de inovação. Não sejamos utópicos, raras são as situações em que o equilíbrio é perfeito, mas temos que buscar ser o mais assertivo possível. 

Atuar com objetivos claros de produto e resultados-chave (seja OKRs, metas ou qualquer outra forma de dar visibilidade e clareza sobre o que deve ser o foco da área), é importante para garantir que o time esteja alinhado com as prioridades estratégicas e que estamos crescendo no ritmo certo.

Usar métricas de eficiência também auxiliam a entender se o time consegue entregar valor continuamente e se está operando de forma otimizada, caso não, ajustes em demandas ou no tamanho/composição do time podem ser necessários. Além disso, estar atento às evoluções tecnológicas e inovações, fazendo ajustes de conhecimento/foco na estrutura conforme necessidade do negócio, visando absorver as oportunidades deve ser uma constante para quem atua com tecnologia. 

BossaBox — Quais temas emergentes você vê ganhando força e acredita que as lideranças devem prestar mais atenção para garantir uma gestão mais eficiente de times?

Glaucia Sayur Alguns temas que estão na pauta dos líderes atualmente envolvem o uso de inteligência artificial, uma vez que é inegável que o impacto disto, seja para aumentar a eficiência e produtividade, seja para construção de soluções e experiências diferenciadas. Com o aumento da coleta de dados, a privacidade e segurança passam a estar no centro da estratégia de produto. Os fluxos devem ser concebidos já com esse olhar (by design) e esse tema só vai crescer em importância. 

Do ponto de vista de times e formatos de trabalho dois pontos merecem destaque, o desafio do trabalho remoto, híbrido e times distribuídos, para garantir coesão, eficiência, criação e fortalecimento de cultura e outros aspectos da ligação com uma empresa e propósito, e a questão de saúde mental, segurança psicológica e ambientes construtivos (que não significam empresas sem resultado e sem metas ou foco).

BossaBox — Quais são suas principais fontes de aprendizado contínuo, como livros, newsletters ou podcasts, que você recomendaria para outras lideranças que buscam aprimorar suas habilidades?

Glaucia Sayur Eu acredito muito em aprendizado contínuo, gosto muito de ler e fazer cursos variados. Para mim olhar deve ser sempre muito pragmático, entendendo que algumas situações são para inspiração e provocação e não para aplicação direta na sua realidade (especialmente pelo fato das empresas terem contextos, focos, desafios e até recursos humanos, financeiros e tecnológicos diferentes). 

Para foco em produtos e estratégia de negócios gosto dos cursos da Section 4, do Scott Galloway, bem como a newsletter do Lenny.  Podcasts existem vários como o Master of Scale, do Reid Hoffman, The Product Podcast, da Product School, Product Thinking da Melissa Perri e nacionalmente temos o Product Guru’s, do Chiodi e a Renata Gagetti falado do Vida Real de Produto. 

E é fundamental que líderes invistam no autoconhecimento para que sejam cada vez melhores e mais assertivos em suas abordagens, pois sempre impactam positivamente (ou negativamente) muitas outras pessoas. Como disse Jack Welch em “Qual o papel do líder”, é preciso ter o gene da generosidade, pois liderar nunca mais é só sobre você.   

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