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Confira a entrevista que a galera do Markeninja fez com Giovanni Salvador, co-fundador do BossaBox.


Como você começou a trabalhar com TI?

Giovanni Salvador: É uma história peculiar. No final da década de 90, meus pais começaram a carreira como programadores, trabalhando no setor de desenvolvimento. Eles trabalhavam especificamente com COBOL, um sistema que serve para fazer a gestão financeira de bancos. É uma linguagem antiga, mas ainda usada, por ser bastante segura.

Posteriormente, eles se tornaram gestores de TI: meu pai abriu a própria consultoria na área e minha mãe é gerente no setor de seguros de saúde, sendo responsável por transformar dados em informações para o marketing da empresa.

Eu tinha o hábito de visitar a empresa do meu pai e realizar pequenas atividades, como organizar as planilhas de pagamento e os cartões de visita. Por volta dos 16 anos, eu comecei a trabalhar formalmente e logo decidi lançar meu primeiro aplicativo.

O objetivo do aplicativo era fomentar o comércio de pequenos bairros, incentivando os moradores a frequentá-los, ao invés de ir apenas aos grandes centros para consumir. Angariei o dinheiro necessário e comecei a gerenciar o desenvolvimento. A ideia acabou não dando certo e eu perdi dinheiro.

A parte positiva foi que eu aprendi mais sobre o processo de desenvolvimento, pois pude acompanhá-lo de perto, uma vez que estava sendo desenvolvido na empresa do meu pai. Aprendi mais sobre as startups, ainda que no momento não soubesse que aquilo recebia essa denominação. Resumindo, eu aprendi a empreender.

O aplicativo falhou, mas eu ainda dispunha dos funcionários que havia contratado para desenvolvê-lo. Então, iniciei e responsabilizei-me pela área de mobile na empresa do meu pai.

O projeto prosperou e fiz o que chamamos de “spin off”, ou seja, transformei aquela área em uma empresa, a Bossa iNova. Eu queria trabalhar com startups e estava dentro de uma consultoria de TI. Inevitavelmente, as estratégias divergiam. Era hora de mudar.

Por não ter a estrutura de uma consultoria de TI por trás do empreendimento, a contrapartida imediata foi ter de fazer tudo por mim mesmo: encontrar desenvolvedores, implantar uma metodologia etc. Isso me trouxe novas perspectivas e experiência.


Quais são as deficiências que você vê no mercado de desenvolvimento brasileiro atual?

GS: Há muita polêmica acerca dessa questão, por isso vou me restringir a falar unicamente sobre a minha experiência e ter o cuidado de não generalizá-la ou torná-la uma máxima. No Brasil, os profissionais de TI são bem formados e têm um bom background. Muitos são autodidatas, porque o desenvolvimento é uma área que permite isso.

Existem três principais problemas: especificação, contratação e gerenciamento de expectativas.

A falta de especificidade ao solicitar um projeto pode comprometer o tempo e os recursos despendidos na criação. Ela também pode gerar uma fuga do escopo, do que foi pré-acordado. Mudanças eventuais são esperadas, mas devem ser poucas e de baixa complexidade, para que isso não afete a metodologia de desenvolvimento.

No que tange à contratação, é preciso ter um perfil claro do profissional que você está buscando, porque isso facilitará a sua escolha. Não se esqueça de realizar testes técnicos com os desenvolvedores, dando-lhes problemas do dia a dia para que resolvam, assim você poderá avaliar a capacidade de cada candidato e ver se eles realmente sabem fazer o que dizem.

Do ponto de vista do contratante, a ausência de mensuração é a adversidade dominante. Por exemplo, se você define que demandará 120 horas para desenvolver o back-end, você precisa saber como distribuir isso dentro do tempo útil do seu funcionário. Qualquer erro implica em atrasos, o que é um grande problema para todos os envolvidos.

Gerenciamento de expectativas é um fator que pode parecer subjetivo, mas suas consequências são bastante objetivas. Pense na seguinte situação: O desenvolvedor estabelece uma expectativa x para o gerente de projeto, que a transfere para o cliente. Se houver algum atraso, todos na cadeia de produção serão prejudicados. Uns perderão dinheiro, uns perderão tempo, outros perderão credibilidade. Isso não é produtivo nem benéfico para ninguém.

Investir tempo junto a uma boa metodologia – testada e validada, fazendo as alterações necessárias para adaptá-las ao seu negócio – na definição de um escopo centrado na especificidade é uma boa alternativa.

Uma das inovações do BossaBox é ter a precificação pré-definida e realizar todo o processo de especificação via chat. Isso permite centralizar as informações sobre um projeto num só lugar, alinhando as expectativas através de uma boa comunicação.


Como funciona, na prática, a área de prestação de serviços de desenvolvimento?

GS: No Brasil, os modelos predominantes são: profissionais freelancers, softwares houses, consultorias e agências de desenvolvimento. Os problemas são similares entre os modelos de prestação de serviços de desenvolvimento: atrasos, quebras de expectativas, produto final completamente diferente do escopo etc.

Para solucioná-los ou minimizar os efeitos negativos de tais fatores é preciso descobrir as melhores tecnologias, buscar conhecimento onde este é mais desenvolvido, além de implantar boas e ágeis metodologias (ou optar pela gestão de projetos tradicional, com base no PMBOK).

É importante não só trazer o cliente para perto durante todo o processo, como também saber lidar com essa relação, sem permitir que sejam feitas alterações drásticas a todo o momento, tendo confiança no que se está fazendo. Isso fará com o que produto final seja muito mais próximo do desejado inicialmente.


O abandono de projetos por parte dos desenvolvedores é algo recorrente. O que você tem a dizer sobre?

GS: O que geralmente acontece é que o desenvolvedor recebe uma parte do pagamento e, frente a um problema aparentemente insolucionável, ele abandona o projeto. Ninguém gosta de continuar batendo a cabeça em um problema que não consegue resolver.

O desenvolvedor gosta de trabalhar remotamente, de testar novas tecnologias, de inovação. O que falta é um pouco de tato no relacionamento com o desenvolvedor. O BossaBox está tentando desenvolver justamente isso, buscando aprimorar essa relação, que é tão importante e complexa quanto a relação com um cliente.


Quais características devem estar presentes em um bom desenvolvedor?

GS: Eu costumo dividir as características de um bom desenvolvedor em duas partes: hard skill e soft skill. A primeira é relacionada às habilidades mais pragmáticas, como codificação, entendimento de lógica e tecnologia.

Já soft skill tem um caráter mais subjetivo, contemplando coisas como: gestão de expectativas e recursos, trabalho em equipe, saber medir a qualidade do código e o desempenho do software, a relação do design com o código. Também é preciso ser uma pessoa ávida por novas tecnologias e conhecimento, participar de eventos de desenvolvimento e saber aplicar o apreendido no cotidiano.


Qual a importância de um marketplace de desenvolvedores para o cenário atual de startups e inovação?

GS: O marketplace sana diversos problemas, sejam eles relacionados à contratação e gerenciamento de uma equipe, ou de descumprimento de prazos e padrões de qualidade.

Do ponto de vista do desenvolvedor, quando a operação presencial é transformada em uma operação de marketplace, todos que não são automatizados passam a ser. Os fatores supracitados são mensurados via software, diminuindo a possibilidade de erros humanos no decorrer do percurso, além de trazer mais eficiência e agilidade para o setor de desenvolvimento.

A vantagem é que o marketplace se torna uma ferramenta para que o desenvolvedor consiga novos projetos quando ele quiser. Assim ele pode continuar a fazer o que ama depois do emprego, ganhar uma renda extra. A única coisa com que ele deve se preocupar é o prazo.

Através do software, quando um desenvolvedor se comprometer a entregar o projeto em determinada data, e isso não ocorrer, o sistema aplicará uma multa nele. Existe a possibilidade de avisar que não será possível cumprir o prazo, no entanto, isso deve ser feito com antecedência. O ponto positivo é que o sistema é algo impessoal, portanto não há desgaste na relação interpessoal entre desenvolvedor, gerente de projetos e clientes.

Do ponto de vista do mercado/do cliente, a mobilidade é a chave. Ele pode acessar o marketplace quando e de onde quiser, preencherá um formulário com algumas perguntas sobre o projeto desejado. Em seguida, conversará com o gerente de projeto sobre o produto a ser desenvolvido e gerará um orçamento.

O orçamento é baseado em um framework de funcionalidades pré-orçadas, eliminando a necessidade de inúmeras reuniões pessoalmente e gerenciamento de desenvolvedores. O cliente não precisa esperar muito para receber atualizações sobre o projeto, pois estes podem ser enviados semanalmente ou checados em nossa plataforma 24 horas por dia.

Com o cliente tendo acesso para onde o seu investimento está sendo direcionado, o desenvolvimento torna-se palpável, intuitivo e simples como deve ser. O valor é um só, mas o cliente pode optar por pagar por etapas, fazendo com que ele se sinta mais seguro.

Em suma, o marketplace é sobre repassar eficiência. Através disso, você gasta menos e, consequentemente, o cliente também gasta menos, tornando os softwares mais acessíveis para todas as startups.

 

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