Todos nós já vimos momentos que um time está muito motivado e momentos que tudo parece dar errado. Desmotivação, sobrecarga, insegurança e desalinhamento são motivos frequentes de insatisfação e podem ser sinais que é preciso repensar a estrutura do time.
Por isso, é importante falar um pouco sobre a Teoria da Carga Cognitiva e entender como ela impacta indivíduos e os times que gerenciamos.
A teoria, criada pelo psicólogo John Sweller em 1988, usa como base a forma como seres humanos processam informação:
A todo momento, somos impactados por informações que precisam ser interpretadas e filtradas. Quem faz isso é nossa memória sensorial. O papel dela é fazer uma curadoria do que realmente é relevante, assim como jogar fora o que não é.
Das informações que passam, elas são armazenadas na memória de trabalho. Esse tipo de memória tem uma capacidade limitada de 5 a 9 itens sendo processados simultaneamente. Como se fosse a memória RAM de um computador. São as informações sendo realizadas para alguma atividade naquele momento.
Nossos cérebros armazenam as informações mais relevantes e codificam elas em “schemas” na memória de longo prazo para que seja mais fácil acessá-las futuramente.
Conforme retornamos informações da memória de longo prazo e as utilizamos na memória de trabalho, mais fixadas elas se tornam e passamos a nos lembrar delas com mais eficácia.
A carga cognitiva, segundo Sweller, pode ser definida como a quantidade total de esforço sendo usado na memória de trabalho.
Ele afirma que os seres humanos possuem um limite de armazenamento na memória de trabalho e que, quando ultrapassado, atividades que envolvem processamento de informação (como aprender e trabalhar) se tornam cada vez mais ineficientes.
Assim como indivíduos, times de Produto também possuem capacidade limitada de administrar e processar grandes quantidade de informações simultaneamente.
Conforme o time cresce e se torna bem-sucedido, a quantidade de outputs gerados se acumula, o que faz crescer também a demanda por manutenção desses outputs. Além disso, o time passa a acumular novas responsabilidades, o que aumenta ainda mais a quantidade de informações que precisam ser processadas.
Aos poucos, a quantidade de informações sendo processadas ultrapassa o limite de carga cognitiva do time, impactando em motivação e performance.
No livro Team Topologies, os autores dão boas dicas do que fazer para reduzir o impacto negativo de times de Produto com alta carga cognitiva:
Domínios: Identifique quais são todos os domínios (ou áreas de foco) de um sistema. Aqui é importante levar em consideração o sistema desejável;
Classificação: Você pode classificar os domínios entre: (1) Simples – Maioria dos problemas possuem uma solução clara; (2) Complicados: Solução é menos clara e requer mais experimentação; (3) Complexos: O problema precisa ser melhor estudado;
Atribuição: Atribua cada time a um domínio específico, levando em consideração que: (1) Um time pode pegar entre 3 e 4 domínios simples simultaneamente; (2) Um time pode pegar 1 domínio complexo/complicado simultaneamente.
Outros princípios
Existem também outros princípios que podem indicar que é o momento de reestruturar seu time. Alguns exemplos são:
- Mudança estrutural na estratégia de Produto ou Negócios;
- Redução ou aumento do time;
- Time não sabe pelo que é cobrado e qual sua responsabilidade no sistema como um todo;
- A comunicação é truncada. As pessoas têm dificuldade em saber com quem e onde se comunicar para resolver um problema;
- Estagnação e baixa performance;
- Reestruturações incrementais do passado não resolveram o problema por completo;
- Insatisfação do time com seu trabalho e da empresa com o time.
A verdade é que é muito comum líderes terem que reestruturar times. Faz parte do nosso papel entender quais sinais buscar e a maneira correta de implementar essas mudanças.
Foto de Capa por Milad Fakurian no Unsplash