6 perguntas para Andrea Mattei, Diretor de Produto na Nomad
Por Redação BossaBox - Beatriz Chueri

5 minutos de leitura

Construir produtos que realmente fazem a diferença vai muito além de lançar novas funcionalidades ou seguir tendências. O verdadeiro desafio está em medir impacto com precisão, saber o que priorizar e inovar sem ceder à pressão por entregas rápidas. Como garantir que uma parceria estratégica gere valor real? Como evitar a armadilha de desenvolver features que não resolvem problemas de verdade?

Convidamos Andrea Mattei, Diretor de Produto na Nomad, para compartilhar sua visão sobre os desafios que moldam a gestão de produto hoje. Nesta conversa, ele fala sobre como medir o sucesso de parcerias estratégicas, equilibrar prioridades sem cair em armadilhas comuns e estruturar times de produto para inovação contínua. Um bate-papo direto e sem clichês, focado em trazer novas formas de pensar e soluções para o dia a dia.

BossaBox A Nomad busca fortalecer parcerias com grandes players do mercado. Qual a sua abordagem para medir o real impacto de uma parceria estratégica no desenvolvimento de novos produtos? Existem métricas ou frameworks que você utiliza para avaliar esse sucesso?

Andrea Mattei Acredito que o sucesso de uma parceria estratégica deve ser medido de forma holística, alinhando objetivos de negócio com a performance do produto. 

Antes de formalizar uma parceria, estabelecemos OKRs claros que ligam a colaboração ao roadmap de desenvolvimento do produto. Utilizamos OKRs específicos, como taxa de adoção das novas funcionalidades da nossa base de clientes, aumento de receita, incremento de LTV, melhoria do NPS dos usuários e possível ganho em aquisição de novos clientes.

Além das métricas quantitativas, buscamos feedback direto dos clientes permitindo ajustes rápidos na estratégia e na implementação dos produtos desenvolvidos em conjunto.

Essa abordagem integrada garante que possamos mensurar o real impacto da parceria, não apenas em termos de números, mas também considerando a experiência do usuário.

BossaBox — Quais são as armadilhas mais comuns em processos de priorização de produto, e como evitar cair na armadilha de priorizar features ao invés de resolver problemas reais?

Andrea Mattei Uma das armadilhas mais comuns na priorização de produto é o foco em desenvolver features “cool” mas que não solucionam os problemas reais dos nossos usuários, desenvolvendo funcionalidades com base em ideias internas sem uma compreensão profunda do problema do usuário.

Para evitar esses tipos de problemas utilizamos frameworks de priorização como RICE que combina dados de alcance, impacto, confiança e esforço e definindo OKRs que estejam diretamente relacionados à resolução dos problemas identificados.

Outro tipo de armadilha é optar por soluções rápidas e de curto prazo que podem gerar resultados superficiais, mas não impactam de forma sustentável a experiência do usuário.

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Evitamos esse tipo de problema equilibrando iniciativas de “quick wins” com projetos de maior impacto e valor estratégico, sempre validando as hipóteses com experimentos e MVPs antes de escalar.

BossaBox — Com toda a sua experiência, quais são os principais desafios ao gerir produto em empresas que já possuem um core digital em comparação com empresas consolidadas, mas que ainda estão passando por uma transformação digital? Quais adaptações são essenciais para cada cenário?

Andrea Mattei Em empresas com core digital um dos desafios é manter o ritmo de inovação sem sacrificar a estabilidade dos sistemas já consolidados. Outro ponto é gerenciar grandes volumes de dados de forma que insights acionáveis possam ser extraídos rapidamente.

Uma adaptação para enfrentar esses desafios é implementar uma cultura de melhoria contínua, fomentando a experimentação e a interação constante, integrando feedback dos usuários e dados operacionais nas decisões de produto.

Outro ponto é implementar uma infraestrutura escalável, modernizando os sistemas e adotar arquiteturas modernas para facilitar a implementação de novas funcionalidades.

Ao contrário, em empresas em transformação digital o grande desafio é superar a resistência interna à mudança e promover uma mentalidade digital em todos os níveis da organização. Acredito que a melhor solução nesse caso seja introduzir metodologias ágeis como Scrum ou Kanban para tornar os processos mais dinâmicos e responsivos e um grande investimento em tecnologia, adotando novas ferramentas digitais que facilitem a integração dos diversos sistemas e a colaboração entre as áreas.

BossaBox Quais você considera as três principais complexidades que Diretores de Produto enfrentam no mercado atual, e como você tem abordado essas questões ao longo da sua experiência?

Andrea Mattei A primeira complexidade é manter a inovação contínua em um cenário de transformação digital. A velocidade com que as tecnologias evoluem e a rápida transformação das demandas dos usuários exige uma constante adaptação e inovação. Nesse contexto, na Nomad implementamos metodologias ágeis e ciclos iterativos de desenvolvimento, garantindo que possamos testar, validar e lançar novas funcionalidades rapidamente, sempre alinhadas às necessidades reais dos nossos usuários.

A segunda complexidade é a gestão e integração de dados para decisões estratégicas.

Extrair insights acionáveis de grandes volumes de dados provenientes de diversas fontes e traduzi-los em decisões estratégicas é um processo complexo.

Na Nomad investimos em ferramentas robustas de analytics e construímos equipes multidisciplinares focadas em data-driven decision making. Isso nos permite ajustar o produto com base em métricas claras e feedback real, aumentando a eficiência das nossas iniciativas.

Última complexidade é o alinhamento e gestão de stakeholders em ambientes multidisciplinares. Conciliar as expectativas e objetivos de diversos stakeholders pode ser bastante desafiador.

Na Nomad utilizamos frameworks de alinhamento, como OKRs, para garantir que todos os envolvidos compartilham a mesma visão e objetivos. Além disso, promovemos uma comunicação transparente e regular, criando um ambiente onde o feedback é constantemente incorporado e as decisões são tomadas de forma colaborativa.

BossaBox — Muitas vezes, times de produto são pressionados a “entregar mais rápido”. Como um líder pode educar stakeholders sobre tempo necessário para inovação real sem gerar frustrações internas?

Andrea Mattei Boa pergunta! Acredito que é fundamental estabelecer uma comunicação clara e transparente para alinhar expectativas. 

Importante explicar que inovação não é simplesmente “entregar rápido”, mas sim investir tempo em pesquisa, prototipagem, testes e validação do mercado.

Novamente, utilizar frameworks como OKRs para segmentar o desenvolvimento em etapas bem definidas, onde cada fase tem objetivos mensuráveis, pode ajudar a enfrentar esse desafio.

Outro ponto fundamental é implementar ciclos ágeis e iterações curtas, onde os resultados são mensurados e compartilhados com a equipe e stakeholders, evidenciando o aprendizado contínuo e a redução de riscos.

BossaBox  O que você gostaria de ter aprendido mais cedo sobre gestão de times de produto?

Andrea Mattei Se pudesse voltar no tempo, certamente gostaria de ter aprendido mais cedo alguns pontos essenciais sobre a gestão de times de produto. Primeiramente, entendi que manter uma comunicação transparente e constante é fundamental. Essa abordagem não apenas alinha as expectativas, mas também cria um ambiente onde os membros da equipe se sentem seguros para compartilhar ideias e oferecer feedback, evitando mal-entendidos e garantindo que todos caminhem na mesma direção.

Outra lição valiosa foi reconhecer a importância de construir uma cultura que valorize o feedback contínuo e o aprendizado. Ver os erros como oportunidades para evoluir estimula a inovação e permite que o time se adapte rapidamente às mudanças do mercado e às demandas dos usuários. Esse mindset é decisivo para transformar desafios em experiências de crescimento coletivo.

Além disso, aprender a delegar e empoderar o time mais cedo teria sido um diferencial. Confiar nos profissionais para tomar decisões e proporcionar autonomia não só acelera o processo de desenvolvimento e inovação, como também aumenta o engajamento e a responsabilidade individual.

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