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Como manter o alinhamento entre as parcerias estratégicas e os objetivos de Produto em um mercado tão competitivo como o varejo? Para responder a essa pergunta, conversamos com Marcela Dias, Gerente de Alianças Estratégicas no Magazine Luiza.

Marcela compartilhou sua visão sobre como as parcerias bem estruturadas podem potencializar o desenvolvimento de produtos, garantindo que estejam sempre em sintonia com as metas de negócios. Além disso, discutimos como a cultura organizacional do Magalu promove a inovação e a colaboração, garantindo que todas as áreas trabalhem juntas para alcançar os objetivos da empresa.

BossaBox — Como você equilibra as demandas de curto prazo com os objetivos de longo prazo no planejamento estratégico da vertical de delivery do Magalu?

Marcela Dias O primeiro passo é garantir que a priorização das iniciativas estejam alinhadas com a visão e a missão da empresa. Preciso ter clareza, de onde a empresa quer chegar no futuro, e como a vertical pode contribuir para o atingimento desses objetivos. Essa visão inspira e orienta a direção estratégica. 

Aqui no Magalu, temos alguns rituais de cultura organizacional que suportam e garantem esse alinhamento horizontal. Temos um encontro, o Posicionamento Estratégico, onde todas as lideranças da empresa se reúnem, após a Diretoria Executiva ter definido os drivers para o ano, e contribuem com a visão de como suas áreas podem apoiar para o alcance desses objetivos e que iniciativas se desdobram. Essas iniciativas são transformadas em OKRs e compõem o nosso painel de metas. 

Pensamos sempre em como as iniciativas estruturantes podem ajudar a atingir as iniciativas de longo prazo. Isso garante que mesmo as ações imediatas contribuam para os objetivos gerais. 

Além disso, para equilibrar a balança é preciso ter mapeado o impacto potencial das demandas, ou seja, entender como essas iniciativas podem minimizar um risco, aumentar receita, melhorar a satisfação do cliente ou possibilitar a escala. Analisar e comparar esses indicadores, são fundamentais para a tomada de decisão do que precisa ou não ser feito. 

Por fim, precisamos estar atentos ao mercado constantemente. Observar as regulações, concorrentes, tendências, mudanças de comportamento, ameaças e oportunidades. O planejamento precisa permitir ajustes conforme necessário para resposta rápida a possíveis mudanças.

BossaBox — Como você assegura que projetos transversais e multidisciplinares estejam sempre alinhados com os objetivos estratégicos e contribuam efetivamente para o crescimento da empresa?

Marcela Dias Primeiro, preciso garantir que os times que participam dos projetos tenham clareza de onde queremos chegar com aquela entrega e como ela impacta e/ou contribui para os objetivos da empresa. Times de alta performance, compreendem como seu trabalho gera valor ao negócio. 

Para isso, defino junto aos executivos quais são esses objetivos e quais os indicadores que mediremos e acompanharemos durante o projeto. O monitoramento e avaliação constante nos sinalizam se estamos na direção ou nos desviando do objetivo final. 

Por fim, ter rotinas de governança são essenciais para manter todos na mesma página e termos velocidade na tomada de decisões. Vivemos em ambientes muito dinâmicos e permitir flexibilidade e reação ágil às mudanças de priorização ou nas condições de mercado, são fundamentais para não ficarmos presos a um planejamento que ao final não faz mais sentido e não entrega valor ao negócio. 

BossaBox — Quais são as principais dificuldades encontradas na coordenação e integração de equipes multidisciplinares em projetos estratégicos?

Marcela Dias A primeira dificuldade é assegurar que os recursos necessários (financeiros, humanos e tecnológicos) estejam adequadamente alinhados com as prioridades estratégicas, o que pode incluir a realocação de recursos para apoiar projetos que tenham maior impacto estratégico. Por isso, é super relevante o desdobramento da visão com todos os colaboradores, assim as concessões se tornam mais simples e temos menos resistências. 

Outro fator importante é estabelecer canais de comunicação claros e eficientes entre as diferentes equipes e departamentos envolvidos. Termos todos os participantes com uma compreensão comum dos objetivos e do progresso do projeto evita ruídos ou desencontros de comunicação. 

Aqui no Magalu, nossa cultura organizacional valoriza a colaboração e incentiva que a inovação deve ser foco de todas as áreas da empresa, por isso estimulamos as equipes a trabalharem em conjunto para alcançar os objetivos comuns. Essa cultura é importante, pois todos remam para o mesmo lado, evitando assim conflitos de interesse. 

BossaBox — De que maneira a colaboração entre diferentes departamentos da empresa contribui para a identificação e aproveitamento de oportunidades de mercado estratégicas?

Marcela Dias Os departamentos não terem grandes silos, estarem isolados cada um na “sua casinha” é muito importante para o todo. Primeiro porque ideias muito interessantes podem vir de quem não está “viciado” com o jeito de fazer ou resolver um problema. Às vezes não entender muito bem sobre o negócio/ produto, faz com que se faça as tais “perguntas bobas”, que podem na verdade nunca terem sido feitas. Um conhecimento ou uma nova abordagem, traz ganhos para a visão do todo. E, uma vez todos mirando o mesmo objetivo, pode-se descobrir formas muito mais inteligentes e inovadoras de resolver um problema ou evoluir algo, pois cada um traz pontos de vistas diferentes, o que nos tira de algum viés ou ponto cego.

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BossaBox — Quais você acredita serem as três habilidades essenciais que profissionais de produto devem desenvolver para serem mais estratégicos e focados no impacto dos resultados do negócio?

Marcela Dias 1. Curiosidade: os profissionais de produto devem sempre estar antenados no que acontece dentro e fora da empresa. Às vezes, podemos identificar uma iniciativa que tem muita sinergia com nosso produto em outro departamento ou segmento. Identificar uma boa prática ou um novo modelo de negócio ao olhar outros mercados, buscar referências que possam ser adaptadas ao contexto da nossa empresa. Repertório nunca é demais.

2. Capacidade analítica: entender como seus produtos impactam o negócio!! Produto por si só não é estratégia. Ele é o meio pelo qual sua empresa resolve alguma necessidade. Então precisamos sempre nos questionar se nosso produto está se adaptando a essa necessidade, que pode mudar conforme a sociedade muda. A melhor forma de fazer isso é se basear em dados e ouvir nossos clientes. No final o negócio mira 3 principais pontos: mais receita, redução/controle de despesas e qualidade. Seu produto precisa ajudar em um ou mais desses pontos.

3. Escuta ativa: não ache que sabe tudo do mercado e/ou do produto. Ouça seu cliente, colegas de trabalho e profissionais da área. Se provoque a ouvir pessoas que pensam diferente de você, entenda seus argumentos e pontos de vista. Não se apaixone pelo produto a ponto de defendê-lo dos fatos. Se apaixone pelo o que ele resolve, pois é aqui que você vai mantê-lo relevante. 

BossaBox — Quais são as melhores práticas que você recomenda para garantir que a estratégia de produto permaneça alinhada com a visão e os objetivos gerais da empresa?

Marcela Dias Dados, feedback e governança. 

Ter os dados e indicadores sempre à vista e acompanhá-los de perto ajuda a entender se seu produto está ou não atingindo os objetivos estabelecidos à ele. Além disso, ele precisa movimentar os resultados da empresa, então também escute a área de negócios e entenda se a sua estratégia está movimentando linhas de receita, reduzindo despesas ou melhorando a experiência. Com esses elementos você entenderá se está priorizando as iniciativas corretamente. Toda priorização é um investimento. 

No Magalu temos um valor em nossa cultura que chamamos, gaste a sola do sapato. 

Seu cliente quer falar com você! Ele vai te sinalizar se seu produto está ajudando a resolver o que se propôs e se a experiência ao usá-lo é positiva e/ou encantadora. Faça pesquisas com eles, leia os comentários / avaliações, vá na operação, veja qual é o dia-a-dia. Tomar decisões do “ar condicionado” não te trará as percepções finas e a vivência prática do negócio.

Mantenha todos os interessados atualizados, mostre os resultados a eles. Muitos projetos/produtos acabam sendo despriorizados pela falta de clareza da alta liderança da estratégia e dos resultados atingidos. Por isso, ter comitês, conselhos, ou seja, rotinas que tragam esse panorama, ajuda a evitar desalinhamentos e decisões precipitadas.   

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