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Se você já ocupou uma posição de liderança em produto ou tecnologia, provavelmente sentiu na pele a montanha-russa que é gerenciar uma equipe em crescimento exponencial e ter que se adaptar a cenários que não previstos.
Neste contexto extremamente dinâmico, surge uma pergunta essencial: quando é o momento certo para reestruturar os times de produto? Essa decisão não pode ser tomada levianamente, porque influencia diretamente na eficiência que seu time vai ser capaz de exercer.
Fazer software é uma atividade altamente “path dependent”. As decisões tomadas no começo referentes ao produto e tecnologia não só influenciam, como também limitam as decisões disponíveis no futuro. Um pequeno desvio no começo, pode causar um grande problema lá na frente.
Por isso, é nosso papel buscar sinais de que está na hora de mudar de rota e reorganizar a maneira como nossos times de produto e tecnologia estão estruturados. Quais são esses sinais?
A Lei de Conway é um princípio que afirma que a estrutura de uma organização afeta diretamente na arquitetura do sistema que ela produz. Em outras palavras, a maneira como as equipes estão organizadas e se comunicam influencia em como um sistema é arquitetado, construído e entregue.
VEJA TAMBÉM: Checklist – sinais de uma squad de alta performance
Muitas vezes, quando a Lei de Conway é citada, as pessoas pensam apenas em arquitetura de software. Mas ela não se resume a isso. A forma como seu time está estruturado pode também influenciar na estrutura da sua estratégia de produto, por exemplo. A Lei de Conway se aplica a Sistemas Complexos como um todo.
No contexto de equipes que criam software, quando a Lei de Conway não é levada em consideração ou é mal interpretada pelo líder, a consequência pode ser um sistema que tem como arquitetura algo inadequado para o caso de uso da empresa.
Ou seja: um sinal que aponta o momento ideal para reestruturar seu time é quando a arquitetura produzida pela organização não corresponde mais ao que é necessário para empresa e para o software sendo construído.
Vejo muita conexão entre a Lei de Conway e a popularização do modelo organizacional Spotify. Para combater estruturas monolíticas de alta interdependência e, com a democratização de arquiteturas de micro-serviço, as empresas começaram a adotar o uso de times menores e multi-disciplinares, com missão e accountability claros alinhados a um propósito em comum.
Quando uma empresa quer mudar a estrutura de um sistema, uma estratégia viável é reorganizar como os times de produto estão estruturados para que eles espelhem a arquitetura desejável. O nome desse tipo de estratégia é chamado de Inverse Conway Maneuver na literatura.
Mas existem alguns riscos ao aplicar essa estratégia:
Como falei, muitas vezes a Lei de Conway é associada apenas à arquitetura de software. Porém, ela pode ser aplicada a todo tipo de sistema (não apenas sistemas técnicos). A estratégia de produto, por exemplo, deve ser vista como um sistema que também é influenciado pela Lei de Conway. Ou seja, a organização do time também influência em como a estratégia é executada e interpretada.
É também possível que essa manobra não funcione. Isso acontece porque, como mencionado no começo, fazer software é path dependent. Não só isso, é algo extremamente interconectado. Uma mudança em uma parte do sistema causa mudanças indesejadas em outra. Portanto, é necessário endereçarmos não apenas a organização do time mas o sistema em si de forma mais proativa. Não espere que um automaticamente corrija o outro!
Nesse artigo, Mathias Verraes traz uma visão interessante sobre como a Lei de Conway e, por consequência, o Inverse Conway Maneuver não se aplicam a sistemas rígidos e pouco flexíveis. Nesses casos, ele aconselha primeiro mudar o sistema, depois a organização.
É importante falar um pouco sobre a Teoria da Carga Cognitiva e entender como ela nos impacta como indivíduos antes de nos aprofundarmos em como ela pode impactar os times que gerenciamos e, claro, se precisamos de uma reestruturação.
A todo momento, somos impactados por informações que precisam ser interpretadas e filtradas – nossa memória sensorial que faz isso. O papel dela é fazer uma curadoria do que realmente é relevante para o contexto, assim como jogar fora o que não é.
Das informações que passam, elas são armazenadas na memória de trabalho. Esse tipo de memória tem uma capacidade limitada de 5 a 9 itens sendo processados simultaneamente.
Nossos cérebros armazenam as informações mais relevantes e codificam elas em “schemas” (ou categorias) na memória de longo prazo para que seja mais fácil acessá-las futuramente.
Conforme retornamos informações da memória de longo prazo e as reutilizamos na memória de trabalho, mais fixadas elas se tornam e passamos a nos lembrar delas com mais eficiência.
Mas o que é Carga Cognitiva?
Carga Cognitiva, segundo o psicólogo John Sweller, pode ser definida como a quantidade total de esforço sendo usado na memória de trabalho. Ele prega que os seres humanos possuem um limite de armazenamento na memória de trabalho e que, quando ultrapassado esse limite, atividades que envolvem processamento de informação (como aprender e trabalhar) se tornam cada vez mais ineficientes.
Por que estou falando tudo isso?
Pois, assim como todos nós, times de produto também possuem capacidade limitada de administrar e processar grandes quantidade de informações simultâneas.
Conforme o time cresce e se torna bem-sucedido, a quantidade de outputs gerados se acumula, o que faz crescer também a demanda por manutenção desses outputs. Além disso, o time passa a acumular novas responsabilidades, o que aumenta (ainda mais) a quantidade de informações que precisam ser administradas.
Aos poucos, a quantidade de informações sendo processadas ultrapassa o limite de carga cognitiva do time, impactando em motivação e performance.
Quando o time começa a reportar sobrecarga e insatisfação, é importante analisarmos de perto se a carga cognitiva do time não foi ultrapassada. Se sim, talvez seja o momento de uma reestruturação para que se tenham responsabilidades mais limitadas e mais claras.
No livro Team Topologies, os autores dão boas dicas do que fazer para reduzir o impacto de times de produto com alta carga cognitiva:
Idealmente, um time deve ser composto por até 8 pessoas. Essa rule of thumb foi derivada de um estudo feito pelo antropólogo Robin Dunbar que identificou que um ser humano consegue manter relações de alta confiança com 5 a 8 indivíduos.
Portanto, considerando que o tamanho ideal de um time é de 5 a 8 pessoas, eles aconselham que:
Existem também outros sinais que podem indicar que é o momento de reestruturar seu time. Porém, muitas vezes existem soluções mais simples do que uma reestruturação completa da organização. Alguns exemplos são:
A verdade é que todos já passaram ou vão passar por uma reestruturação de times de tecnologia. Faz parte do nosso papel, como líderes, entender quais sinais buscar e qual é a maneira correta de fazer essa estruturação.
Espero que esse artigo tenha dado um pouco de luz ao tema. Mas, qualquer dúvida ou complemento, pode me chamar em joao@bossabox.com.
Times de Tecnologia
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