O desafio da reconstrução de software: Riscos e estratégias de mitigação
Por Vitor Fonseca - Engineering Manager na BossaBox

5 minutos de leitura

É comum que, à medida que as empresas cresçam e suas necessidades evoluam, elas se vejam diante da decisão de modernizar seus softwares ou fazer o chamado rebuild — reconstruí-los do zero.

Sistemas legados, embora fundamentais para operações atuais, muitas vezes se tornam uma fonte de preocupação: altos custos de manutenção, tecnologia defasada e pouca flexibilidade para acompanhar o ritmo do mercado. A necessidade de manter a continuidade dos negócios, preservar o investimento em dados e, ao mesmo tempo, melhorar a segurança e a conformidade, leva muitas organizações a optar pela reconstrução. No entanto, essa decisão vem acompanhada de desafios significativos, como migração de dados complexa, integrações difíceis e até mesmo a resistência dos usuários.

Neste artigo, vamos explorar os riscos mais comuns da reconstrução de software e, acima de tudo, como superá-los.

  1. Consumo Excessivo de Tempo e Recursos

A reconstrução de software muitas vezes exige mais tempo e recursos do que o previsto. Isso ocorre porque, além de desenvolver o novo sistema, a equipe também precisa lidar com a manutenção contínua do sistema legado, ainda em uso. A necessidade de migrar dados, preservar funcionalidades críticas e garantir compatibilidade com outros sistemas legados adiciona uma camada extra de complexidade. Para mitigar esse problema, é crucial ter um planejamento detalhado com margens de segurança para imprevistos. Dividir o projeto em fases menores com metas claras e adotar metodologias ágeis permite ajustes rápidos e uma gestão mais eficiente de recursos. Além disso, manter uma equipe dedicada para lidar com o sistema legado durante o processo reduz retrabalho e interrupções.

  1. Riscos de Migração

A migração de sistemas e dados é uma das partes mais delicadas da reconstrução de software. O processo envolve mover grandes volumes de dados antigos, migrar funcionalidades críticas e garantir que o novo sistema possa integrar-se ao ambiente existente. Existem várias abordagens para lidar com essas migrações. 

A estratégia Big Bang, por exemplo, oferece a vantagem de uma mudança completa de uma só vez, mas carrega o risco de falhas em larga escala, já que todas as mudanças são implementadas de uma vez só, e isso pode resultar em bugs massivos e dificuldades de recuperação. Por outro lado, o padrão Strangler evita grandes interrupções, substituindo gradualmente partes do sistema legado, mas aumenta a complexidade da sincronização de dados e a integração contínua. A escolha da estratégia depende da tolerância ao risco e das necessidades de negócio, mas independente da escolha, é necessário planejamento detalhado e testes rigorosos para garantir uma transição tranquila. Martin Fowler traz uma excelente analogia para explicar o conceito e os benefícios do padrão Strangler em “Strangler Fig”.

  1. Perda de Dados ou Problemas de Sincronização

Em projetos de reconstrução, a migração de grandes volumes de dados pode resultar em perdas, corrupção ou problemas de sincronização, principalmente se o formato ou estrutura dos dados for significativamente diferente entre o sistema legado e o novo. Esse risco é agravado pela complexidade de dados antigos, como estruturas desatualizadas ou dados incompletos. Para evitar esse problema, é importante fazer uma avaliação cuidadosa da qualidade dos dados, definir indicadores de integridade, realizar validações contínuas e adotar estratégias incrementais de migração, garantindo que dados críticos sejam tratados com prioridade.

  1. Bugs e Desafios Inesperados

Ao reconstruir software, novos bugs e problemas técnicos são inevitáveis. O processo de migração envolve sistemas já estabelecidos e dados antigos, que podem não estar bem documentados ou não se integrar facilmente ao novo sistema. A melhor forma de mitigar esse risco é implementar testes contínuos ao longo do desenvolvimento, utilizando frameworks de integração contínua.

A Atlassian explica essas abordagens de forma prática em “Diferentes tipos de testes de software” e “Integração Contínua”. Revisões de código frequentes e práticas de programação em pares também ajudam a garantir a qualidade do código, evitando que erros se acumulem e causem maiores problemas nas fases finais do projeto.

  1. Integração com Sistemas Existentes

Reconstruir software envolve muitas vezes integrar novos sistemas a legados ou serviços de terceiros. Tecnologias antigas, formatos de dados personalizados e protocolos de comunicação desatualizados podem ser incompatíveis com os padrões modernos. Esse risco exige testes rigorosos, como testes unitários, de integração e de aceitação do usuário, para garantir que os novos sistemas não causem falhas operacionais. Planejar medidas para compatibilidade dos sistemas antigos e novos é crucial para evitar interrupções no negócio.

  1. Riscos de Custo

O estouro de custos é um risco comum na reconstrução de software, causado por complicações imprevistas e prazos prolongados. Muitas vezes é necessário manter o sistema legado operacional até que a migração seja concluída, o que pode gerar duplicidade de custos de infraestrutura, ferramentas e pessoas. Para evitar surpresas financeiras, é importante fazer um planejamento orçamentário detalhado por fases e monitorar os custos continuamente. Esse planejamento deve considerar a necessidade de rodar sistemas paralelos e garantir que o orçamento cubra esses custos extras.

  1. Vulnerabilidades de Segurança

Ao reconstruir um sistema, novas vulnerabilidades de segurança podem surgir, especialmente com a adoção de novas arquiteturas e ferramentas. Esse risco é maior em projetos de reconstrução, pois o sistema legado pode ter falhas antigas de segurança que precisam ser corrigidas ao mesmo tempo que novas ameaças surgem no sistema novo.

A segurança deve ser uma prioridade desde o início, com auditorias regulares e testes de penetração integrados ao processo de desenvolvimento. Práticas de DevSecOps garantem que a segurança esteja incorporada em todas as etapas do ciclo de vida do software, prevenindo falhas que possam comprometer dados e a conformidade com regulamentações. A publicação “O que é DevSecOps?”, da AWS, explica bem o conceito e como aplicar essas práticas.

  1. Resistência à Mudança

Projetos de reconstrução de software podem enfrentar resistência de funcionários e usuários já familiarizados com os processos e sistemas antigos, já que estes podem possuir expectativas de padrões não atendidos pelo novo sistema. Para lidar com essa resistência, é essencial adotar uma estratégia eficaz de gestão de mudanças, isso inclui comunicação clara sobre os benefícios do novo sistema, treinamentos para facilitar a adaptação e suporte contínuo para que as pessoas se sintam confortáveis com as novas ferramentas e fluxos de trabalho.

Além disso, os usuários devem ser envolvidos desde o início do projeto, participando de testes de usabilidade e fornecendo feedbacks sobre o design. Testes beta e lançamentos parciais ajudam a introduzir mudanças gradualmente, dando tempo para adaptação e reduzindo o impacto negativo na experiência do usuário.

  1. Riscos de Engenharia Reversa

Na reconstrução de software, a engenharia reversa pode ser utilizada para analisar o sistema legado e transferir conhecimento embutido no código antigo para o novo. O sistema legado pode conter informações críticas que não estão bem documentadas, e a engenharia reversa pode falhar ao capturar todos esses detalhes. Para mitigar esse risco, é importante realizar testes no sistema legado, e envolver pessoas que conhecem profundamente os requisitos de negócio e tecnologia do mesmo. É necessário muito cuidado e planejamento para garantir que os elementos críticos do sistema legado sejam transferidos adequadamente.

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Conclusão: Gerenciamento proativo de riscos para um rebuild bem-sucedido

Embora a reconstrução de software apresente uma série de desafios, é possível obter sucesso abordando-os de maneira proativa.

Discutimos aqui os riscos mais comuns deste processo, no entanto, é importante lembrar que cada projeto possui suas peculiaridades, e por isso é essencial realizar uma análise de risco detalhada do projeto. Ferramentas e métodos, como a matriz de probabilidade e impacto, ajudam nessa tarefa. “Matriz de risco: o que é e como fazer”, da ESPM, é uma leitura rápida para entender como o método pode ser aplicado.

Por fim, a priorização de planos de ação permite que as equipes de engenharia e produto se concentrem nos desafios mais urgentes, mitigando os riscos antes que eles se tornem problemas reais. Com um planejamento cuidadoso, testes contínuos e um envolvimento ativo dos usuários, seu projeto de reconstrução pode não apenas alcançar o sucesso técnico, mas também proporcionar uma experiência aprimorada e alinhada às expectativas do negócio.

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