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A tecnologia existe para facilitar a vida das pessoas, mas para outras, que é o caso das pessoas com deficiência, essa ferramenta vai muito além: ela viabiliza experiências que antes eram difíceis e até inviáveis. Por esse motivo, a acessibilidade dos produtos digitais se tornou um tema tão necessário nos dias atuais. Hoje, 21 de Setembro, é Dia da Luta da Pessoa com Deficiência e momento essencial para abordar o assunto.
12,7 milhões de brasileiros são pessoas com deficiência em grau alto (Percepções de dificuldades: enxergar, ouvir, caminhar, subir degraus). Esse número corresponde a 6.7% da nossa população. Por se tratar de um número significativo, toda empresa com 100 funcionários ou mais é obrigada por lei a ter de 2 a 5% dos seus cargos preenchidos por pessoas com deficiência. No entanto, a maioria das pequenas empresas não está se capacitando para receber essas pessoas no seu crescimento.
Começamos a nos perguntar: O nosso site é acessível? Os produtos que estamos desenvolvendo são acessíveis? O nosso processo seletivo é acessível? Somos capazes de abraçar pessoas com deficiência no nosso time?
Para que a BossaBox possa, de fato, cumprir a sua missão no mundo, precisamos criar um ambiente plural e com igualdade de oportunidades. Por isso, no nosso último planejamento estratégico do Comitê de Diversidade e Inclusão, definimos que o tema do trimestre seria Acessibilidade, uma vez que percebemos que os nossos produtos estavam desatualizados para receber essas pessoas.
O comitê foi fundado com o propósito de lutar contra vieses e com a responsabilidade de garantir segurança psicológica no ecossistema BossaBox. As ações em torno dele ajudam a estimular a conexão entre as pessoas e aumentar o impacto dos nossos produtos e das empresas que nos contratam. As reuniões do comitê são quinzenais e já foram abordados temas como: igualdade racial, de gênero, saúde mental e muitos outros.
Depois de definir acessibilidade como tema norteador das ações do comitê, dividimos as nossas atitudes em: sensibilização através de cerimônias culturais, informação e conexão entre pessoas e hora de pôr em prática
Convidamos pessoas com deficiência para falar sobre suas experiências no mercado de trabalho em uma de nossas cerimônias culturais. Elas contaram sobre os obstáculos que enfrentam em meio a tecnologia e as vantagens trazidas por ela. As pessoas convidadas foram:
Sidney Tobias de Souza, homem cego e analista de sistemas, comentou sobre as dificuldades que antes enfrentava e que foram sanadas pela tecnologia, como: pedir um carro por aplicativo, visualizar cardápios por QR code, que nem sempre são fornecidos em braille. Ele falou sobre a possibilidade trazida pelos leitores de tela no desenvolvimento de códigos e trabalhos nas áreas de TI para pessoas cegas. O Sidney nos ensinou boas práticas em eventos, como a descrição da nossa fisionomia.
Rayane Barbosa, mulher cadeirante e administradora, também foi nossa convidada. “Vivi minha vida toda pensando que eu era esquisita e a tecnologia me possibilitou me conectar com outras pessoas com deficiências. Ela trouxe representatividade: pessoas trabalhando em diferentes profissões é um incentivo para buscarmos e almejarmos todos os lugares possíveis, porque é o nosso direito. A tecnologia me permitiu estar aqui na vídeo chamada, que bom que estamos fazendo parte de uma mudança maior!”
Maria Júlia, mulher surda e psicóloga, falou sobre o capacitismo, que é o preconceito com pessoas com deficiência. Ela comentou das dificuldades que já enfrentou no ambiente de trabalho e nos ajudou com sugestões que podemos implementar no nosso dia a dia para ajudar pessoas com deficiência, por exemplo: ligar a câmera nas vídeo conferências e legendar nossas postagem para garantir a compreensão de pessoas surdas.
Esse papo foi muito enriquecedor para o nosso time, percebemos na prática o impacto que pode ser trazido por um trabalho bem feito. Recebemos muitas sugestões de acessibilidade em produtos digitais e pontos de melhoria, como: botão etiquetado em produtos e não só a função associada ao botão e padrão de tamanho dos ícones e espaçamento significativo.
Conversar com essas pessoas nos sensibilizou e trouxe um senso de propósito maior para nós. Sabíamos de muitos desses obstáculos, mas ouvir de pessoas que vivem essas experiências na prática foi uma vivência enriquecedora.
Começamos essa etapa do comitê com pesquisas: reunimos o que já sabíamos e como poderíamos agir em torno da acessibilidade na nossa vida pessoal e como implementar atitudes no nosso ambiente de trabalho.
Na nossa biblioteca virtual, espaço de pílulas de conteúdo, dicionário, vídeos educativos, gravações de conversa e apresentações do comitê, acrescentamos conteúdos sobre “Conviver com diferenças – Deficientes auditivos”, “Direitos de Pessoas com Deficiência”, alguns cases de mercado e fizemos indicações de pessoas com deficiência que produzem conteúdo online.
Incluímos palavras capacitistas no nosso Guia de palavras e expressões para você retirar do seu dia a dia com: “Não temos braços/pernas para isso”, “Que Retardado/Deficiente mental”, “Dar uma de João sem braço/Braço curto” e ‘Está surdo?/Está cego?”. Acrescentamos também um conteúdo com expressões cotidianas, porém, preconceituosas. Além disso, atualizamos o nosso dicionário com palavras em torno do tema escolhido no trimestre, como: acessibilidade física e digital, Braille, Deficiência Intelectual e Múltipla e muitas outras, para que as pessoas colaboradoras possam acessar quando preferirem.
Convidamos um prolancer da nossa comunidade de profissionais da tecnologia, para fazer uma apresentação sobre “Como construir aplicações que funcionam para todas as pessoas?”. O Matheus de Sousa Figueirêdo é desenvolvedor e vem aprofundando seus conhecimentos em acessibilidade de produtos digitais. Por esse motivo, chamamos ele para palestrar e convidamos a nossa comunidade de profissionais e o nosso time interno de tecnologia.
A apresentação dele cobriu a definição do termo: Acessibilidade é a condição de possibilidade para a transposição dos entraves que representam as barreiras para a efetiva participação de pessoas nos vários âmbitos da vida social. Também, Matheus falou sobre os problemas mais comuns em acessibilidade encontrados na web:
“Algumas ferramentas não têm acessibilidade mínima e isso dificulta muito para pessoas com deficiência. Cada vez mais precisamos nos preocupar com todo espectro de pessoas que podem vir a usar a nossa aplicação e produtos que construímos para que a experiência seja benéfica para todos os públicos.”
O Matheus não nega a dificuldade de se implementar todas as questões de acessibilidade no produto: “A pessoa desenvolvedora precisa ter estrutura clara para conseguir adicionar todas as questões, mas, além trazer um diferencial muito grande para o produto, é uma questão de hábito e processos claros”. Por isso, ele comentou quais são os níveis de acessibilidade da Web Content Accessibility Guideline (WCAG).
1- O primeiro nível, A, é o nível mínimo para garantir a acessibilidade da forma mais simples possível, garantindo que aqueles principais entraves sejam sanados.
2- O segundo nível, AA, demanda ajustes mais complexos e envolve particularidades de acordo com o conteúdo disposto, por exemplo, assegura que o vídeo está legendado adequadamente
3- O terceiro e mais complexo nível, AAA, é a forma mais sofisticada de experiência do usuário, seja ele qualquer pessoa. Nesse nível, a experiência fica muito semelhante à experiência do usuário sem deficiência.
Ele finalizou a apresentação nos indicando algumas ferramentas que usa para aplicar a acessibilidade na prática, que variam entre softwares que analisam os conteúdos e encontram irregularidades automáticas até os que as alteram automaticamente. Entre elas: Web Accessibility Evaluation Tool (WAVE), accessiBe, Extensão Visual Studio Code (aXe) e Google Lighthouse.
“A gente cobra da pessoa engenheira civil que faça algo acessível fisicamente, como rampas. Mas, na web, a gente acaba negligenciando essa parte. O website não deixa de ser um lugar, precisamos ter a mesma preocupação que teríamos em ambiente físico para que pessoas não encontrem limitação ao serem usuárias de nossos produtos”.
Depois de ter compreendido todos os nossos obstáculos e mapeado os próximos passos, fechamos parceria com o Movimento Web para Todos, empresa que mobiliza organizações, profissionais e pessoas com deficiência por meio de oficinas, debates, estudos e outras ações em prol da acessibilidade digital. Faremos uma oficina com o nosso time de pessoas desenvolvedoras, de design e marketing, para que eles nos ajudem a analisar todas as questões dos nossos produtos e nos ensinem a encontrar um padrão para que os nossos produtos futuros sejam acessíveis.
Além disso, a nossa líder do comitê, Suzana de Miranda, orientou todas as pessoas do comitê para implementarem de pequenas a grandes atitudes em favor da acessibilidade no seu dia a dia e em seus respectivos times. Os nossos projetos de marketing, tecnologia, experiência dos clientes e experiência de profissionais foram incrementados com ações do comitê.
A BossaBox ainda está longe de ser uma empresa 100% acessível, temos entraves nos nossos produtos, no nosso RH e na nossa comunicação. No entanto, as ações que já colocamos em prática nos trouxe muito aprendizado e uma vontade ainda maior de abrigar todas as pessoas nos produtos em que construímos. Com o crescimento da empresa e a implementação dessas atitudes no nosso dia a dia, traremos ênfase para a importância da acessibilidade. Com isso, seremos capazes de acolher profissionais com deficiência e teremos a representatividade que almejamos para nos tornar uma empresa inclusiva e implementar a inclusão digital nos produtos dos nossos clientes.
A missão da BossaBox é empoderar aqueles que transformam o mundo através da tecnologia. Mais do que isso: queremos recrutar e conseguir empoderar diferentes pessoas, sem exceção, que trabalharão conosco e transformar o mundo com impacto positivo e inclusão!
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