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Nas organizações de produtos digitais, as equipes de Produto e Engenharia desempenham papéis cruciais. Enquanto o foco da primeira está no entendimento das necessidades do cliente e na criação de produtos eficazes, a segunda se concentra na construção desses produtos, prezando pela qualidade e eficiência.
A harmonia entre essas duas áreas é crucial para o sucesso do produto. Sem ela, as chances de criar funcionalidades que não resolvam os problemas dos clientes ou que sejam de baixa qualidade aumentam consideravelmente.
Um dos caminhos possíveis para buscar este alinhamento é através de métricas compartilhadas – o que pode parecer simples, mas traz desafios para criação, manutenção e comunicação entre equipes.
Métricas de Produto tendem a estar mais alinhadas com a estratégia do negócio e podem incluir itens como churn, LTV/CAC, tempo de engajamento do usuário, DAU/WAU/MAU, e CSAT/satisfação. Já, as métricas de Engenharia focam mais na eficiência e qualidade da construção, incluindo aspectos como uptime/downtime, qualidade/resolução de erros (MTTR, MTBF), latência de APIs, tempo de carregamento de página, DORA Metrics e métricas ágeis.
É importante que esses indicadores se conectem através de uma estrutura em que seja fácil identificar seus impactos uns nos outros e de preferência chegando até o nível dos objetivos da corporação. Alguns frameworks ajudam a desenhar esse mapa e as correlações entre as métricas como OKRs e o North Star.
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A falta de visibilidade e entendimento das métricas ou até mesmo o desalinhamento entre essas duas equipes pode levar a uma série de problemas, incluindo esforços redundantes, desperdício de recursos e eventualmente até conflitos entre as áreas.
Algumas estratégias podem ser tomadas para aumentar a chance de sucesso nessa empreitada:
Uma abordagem eficaz envolve o estabelecimento de métricas que sejam relevantes para ambas as equipes. Isto incentiva as equipes a trabalharem juntas para otimizar tanto a experiência do usuário como o desempenho do sistema. Algumas métricas cruzadas que já utilizei em diferentes contextos: Tempo de carregamento de página vs taxa de conversão, churn rate vs qualidade de construção, satisfação do cliente (CSAT) vs resolução de erros (MTTR), DAU vs latência de APIs etc.
Isso não é surpresa para ninguém e acaba sempre sendo repetido, mas ainda é uma das principais falhas entre equipes. A comunicação é a base de qualquer colaboração eficaz. Gosto, por exemplo, de ter reuniões semanais ou quinzenais onde cada equipe pode apresentar métricas chave e discutir como elas se correlacionam com os objetivos gerais do projeto. Um formato possível é um método que sempre utilizo, que envolve um tipo específico de reunião estruturada com etapas e em uma delas chamada ‘Revisar’, em que são apresentados checklists, projetos e métricas. Esse formato de reunião é bem interessante e vale um artigo só para ele.
O uso de um sistema de monitoramento que integra indicadores de ambas as áreas pode ser muito eficaz. Plataformas como DataDog ou Grafana permitem que métricas de diferentes fontes sejam visualizadas em um único painel, facilitando a interpretação conjunta e permitindo ajustes em tempo real.
Um desenvolvedor pode não entender a importância do churn rate, assim como um gerente de produto pode subestimar a relevância da latência de uma api. Por isso, criar momentos de aprendizado mútuo pode ser esclarecedor e altamente benéfico para ambas as partes. Realizar um workshop onde desenvolvedores explicam para gerentes de produto sobre métricas de desempenho e performance e outro onde gerentes de produto explicam para desenvolvedores sobre métricas de engajamento e negócio oferece um caminho possível para esse entendimento mútuo.
Independente da forma como a empresa faz a priorização, como através de refinamentos usando frameworks como Kanban ou Scrum, é crucial que ambas as áreas trabalhem juntas. Ao analisar as métricas em conjunto enquanto se está trabalhando no refinamento do backlog, é mais fácil para as equipes estabelecerem prioridades que beneficiem ambos os lados. Por exemplo, se a métrica de “tempo de carregamento da página” for uma preocupação, tanto a Engenharia quanto o Produto podem trazer ideias. Isso acaba contribuindo para o entendimento e priorização dos temidos Débitos Técnicos, que por vezes são negligenciados por não haver clareza de que uma melhora na métrica “latência p99” de uma API pode acabar convertendo mais em vendas ou aumentando o engajamento.
Essas são somente algumas das estratégias que utilizei ao longo da minha carreira, mas para garantir que o alinhamento de métricas seja eficaz e duradouro, é necessário fazer mais do que simplesmente implementá-las. Deve haver um esforço contínuo para monitorar, avaliar e ajustar as métricas e os objetivos da empresa.
Isso pode incluir revisões periódicas para verificar se os objetivos ainda são relevantes ou se novas métricas devem ser introduzidas ou removidas para refletir mudanças nas prioridades da organização e no ambiente do mercado.
A colaboração entre as equipes de Produto e Engenharia não deve ser um evento único, mas sim um processo recorrente que evolua com o tempo e as circunstâncias. O ambiente de negócios está sempre mudando, assim como as necessidades e expectativas dos usuários. Portanto, manter um alinhamento eficaz é um exercício contínuo que requer comprometimento e adaptabilidade de ambas as partes.
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