6 perguntas para Joaquim Torres (Joca), Fundador da Gyaco
Por Redação BossaBox - Beatriz Chueri

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O que faz um produto ter um impacto significativo no mercado? Podemos ter diversas respostas e pontos para abordar aqui, mas um fator essencial é um time bem estruturado e uma cultura de produto de alto impacto. Imagine um ambiente onde a inovação é mais que uma meta, é um estilo de vida. Onde cada ideia, por mais ousada que seja, é explorada com paixão e rigor. Nesse cenário, a experimentação é encorajada, os erros são vistos como oportunidades de aprendizado e o feedback dos usuários é valorizado como ouro. É essa combinação de visão, criatividade e execução que define a cultura de produto de alto impacto, capaz de transformar conceitos em realidades.

Para entender melhor como essa cultura se manifesta na prática, entrevistamos Joaquim Torres, o Joca, fundador da Gyaco. Joca nos trouxe insights valiosos sobre como cultivar essa mentalidade, enfrentando desafios e superando obstáculos para inovar continuamente.

BossaBox — Como você define uma cultura de produto de alto impacto e quais são os pilares fundamentais que sustentam essa cultura em sua organização?

Joca Defino uma cultura de produto de alto impacto como um conjunto de comportamentos e práticas que promovem o desenvolvimento eficiente e bem-sucedido de produtos digitais. Essa cultura é sustentada por quatro pilares fundamentais:

  1. Entregas rápidas e frequentes: Para inovar efetivamente, é essencial realizar entregas de código em ciclos curtos e contínuos, evitando longos intervalos mensais ou trimestrais.
  2. Foco no problema: Primeiramente, é crucial entender profundamente o problema antes de pensar nas soluções. Testar várias hipóteses é vital para encontrar a solução mais eficaz e rápida. 
  3. Entrega de resultados: A meta principal de um time de desenvolvimento é entregar resultados tangíveis. Produtos, aplicativos e funcionalidades são apenas meios para alcançar esses resultados. 
  4. Mentalidade de ecossistema: Além de focar no cliente, é necessário entender as diversas relações entre diferentes tipos de clientes dentro do ecossistema da empresa para maximizar o valor entregue.

Esses princípios são a base de uma transformação digital bem-sucedida. Encontro muitas empresas que, ao adotar metodologias ágeis, acreditam ter realizado uma transformação digital completa. No entanto, metodologias ágeis são apenas o processo por trás da cultura ágil. Apenas seguir essas metodologias não garantirá a criação de produtos melhores. É necessária uma mudança de comportamento e uma verdadeira transformação cultural para construir produtos digitais que resolvam problemas reais dos clientes e atinjam os objetivos estratégicos da empresa.

Esses quatro princípios que aplicamos consistentemente ajudam a garantir que nossas equipes de desenvolvimento estejam alinhadas com os objetivos de negócios, promovendo um ambiente de constante evolução e melhoria, e entregando produtos digitais de alta qualidade e impacto.

BossaBox — Quais são os principais erros ou mitos que você vê relacionados aos processos para construção de produtos?

Joca Ao longo da minha experiência, observei vários erros comuns e mitos relacionados aos processos de construção de produtos. Aqui estão alguns dos mais críticos:

Pular a descoberta de solução: Muitos times de desenvolvimento de produtos cometem o erro de ir direto da descoberta do problema para a entrega da solução, sem explorar diferentes hipóteses. Isso leva à baixa adoção do produto, pois a solução pode não resolver adequadamente o problema identificado. É crucial investir tempo na descoberta de soluções, testando protótipos, landing pages ou outras ferramentas para validar a viabilidade antes de investir na construção completa.

Falta de foco no mercado: A segmentação inadequada do mercado e a falta de compreensão das necessidades dos diferentes tipos de clientes resultam em produtos que não encontram um público adequado. Uma pesquisa de mercado relevante e uma boa segmentação são essenciais para garantir que o produto atenda às expectativas dos usuários.

Produtos incompletos ou excessivamente complexos: Lançar produtos sem as funcionalidades essenciais ou com complexidade desnecessária pode afastar os usuários. É importante encontrar um equilíbrio entre funcionalidades mínimas viáveis e simplicidade para facilitar a adoção pelo mercado. 

Má gestão e execução: Problemas como precificação incorreta, má gestão dos canais de vendas e investimento em áreas erradas do negócio podem comprometer o sucesso do produto. A execução eficaz, baseada em dados e feedback dos clientes, é fundamental para o desenvolvimento de produtos bem-sucedidos. 

Ritmo inadequado de desenvolvimento: Entregas lentas ou falta de iteração rápida podem fazer com que o produto perca relevância no mercado. É essencial adotar práticas ágeis que permitam entregas rápidas e frequentes para acompanhar o ritmo de inovação e responder rapidamente às mudanças do mercado.

Resolvendo o problema errado: Muitas vezes, empresas desenvolvem produtos que não atendem às necessidades reais dos clientes, focando em problemas que não são prioritários. É vital entender profundamente o problema antes de desenvolver uma solução, garantindo que o produto tenha um ajuste adequado ao mercado.

Mentalidade de ecossistema: É importante ter uma visão ampliada do cliente, considerando todas as relações e tipos de clientes dentro do ecossistema da empresa. Isso ajuda a maximizar o valor entregue e a criar produtos que atendam às diversas necessidades dos clientes.

Esses erros e mitos mostram a importância de adotar uma abordagem holística e centrada no cliente na construção de produtos digitais. Investir na descoberta de soluções, entender profundamente o mercado e os clientes, iterar rapidamente e executar com precisão são elementos cruciais para evitar falhas e construir produtos de sucesso.

BossaBox — Quais são os critérios mais importantes que você considera ao formar um time de produto de alto impacto e como você garante que esses critérios sejam mantidos ao longo do tempo?

Joca Considero essencial selecionar profissionais que priorizem uma cultura de produto robusta. Isso inclui entregas rápidas e frequentes, foco nos problemas dos clientes, entrega de resultados concretos e uma mentalidade de ecossistema.

BossaBox — Quais são os principais desafios que você acredita que os gestores de produto enfrentarão ao integrar IA em seus processos, e como eles podem se preparar para esses desafios?

Joca Os gestores de produto enfrentarão vários desafios ao integrar IA em seus processos. Um dos principais desafios é a preocupação com a substituição de empregos, especialmente entre engenheiros de software. 

Outro desafio é a adaptação cultural e organizacional. Integrar IA exige que as equipes se acostumem a novas ferramentas e metodologias, o que pode encontrar resistência inicial. Para enfrentar isso, é fundamental promover uma cultura de aprendizado contínuo e experimentação, incentivando a equipe a explorar como a IA pode ser uma ferramenta complementar em vez de uma substituta. 

Hoje, não conseguimos imaginar nossa vida sem a internet, sem acesso em qualquer lugar através do celular. Redes sociais nos conectam com pessoas que não vemos há anos ou que nunca conhecemos. A compra online e o streaming de áudio e vídeo se tornaram indispensáveis. No início dos anos 90, isso era inimaginável. 

Estamos em um momento semelhante com a IA. Agora, a IA, uma tecnologia madura, encontrou um uso popular (GenAI + ChatGPT), e muitas inovações promissoras estão surgindo.

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BossaBox — Quais são os pontos chave a serem observados para garantir que a fase de discovery não se torne um gargalo no processo de desenvolvimento?

Joca Garantir que a fase de discovery não se torne um gargalo no processo de desenvolvimento é crucial, pois essa fase tem o objetivo claro de mitigar os riscos associados ao desenvolvimento de produtos. É importante lembrar que o desenvolvimento de produtos requer um investimento significativo e, portanto, é essencial que o tempo e os recursos da equipe de desenvolvimento sejam utilizados de maneira eficiente para ajudar a empresa a atingir seus objetivos enquanto resolve problemas reais dos clientes. 

Primeiro, é essencial lembrar que o discovery de produtos não é um processo, mas sim um conjunto de ferramentas destinadas a mitigar riscos. Estes riscos incluem o valor para o cliente, a usabilidade, a viabilidade técnica e a viabilidade de negócios. Priorizar esses riscos é crucial para focar nos que têm maior potencial de impactar negativamente o sucesso do produto. 

Para evitar que o discovery se torne um gargalo, os gestores de produto devem garantir: 

  • Clareza no objetivo do discovery: Focar na mitigação de riscos, assegurando que os recursos da equipe são investidos em desenvolvimentos que realmente ajudam a atingir os objetivos estratégicos da empresa. 
  • Priorização de riscos: Identificar e priorizar os riscos mais críticos, aplicando técnicas de discovery específicas para mitigar esses riscos de forma eficaz.
  • Uso adequado de ferramentas: Utilizar diversas técnicas de discovery de forma criativa, adaptando as ferramentas às necessidades específicas de cada risco para evitar desperdício de tempo e recursos.
  • Iteração rápida e feedback contínuo: Promover ciclos rápidos de iteração e coleta de feedback para ajustar as estratégias conforme necessário, mantendo o processo de discovery ágil e produtivo.

Seguindo esses pontos, os gestores de produto podem assegurar que a fase de discovery contribua positivamente para o desenvolvimento, evitando atrasos e garantindo a entrega de produtos que atendam tanto aos objetivos da empresa quanto às necessidades dos clientes.

BossaBox — Quais 3 dicas principais você daria para medir e gerenciar a produtividade em times de produto de forma mais eficaz?

Joca A primeira dica que eu daria é: centralizar a discussão sobre produtividade! Faça da produtividade um tema central nas conversas de equipe. Discutir regularmente sobre como melhorar pode gerar insights valiosos e iniciar mudanças significativas. Realize essas discussões semanalmente para experimentar novas abordagens e avaliar seus impactos.

A segunda dica é sobre promover a experimentação contínua. Teste diferentes estratégias e práticas para aumentar a produtividade. Avalie os resultados de cada experimento e adapte as abordagens conforme necessário. A experimentação contínua ajuda a descobrir métodos eficazes e a otimizar os processos.

E por fim, cultura de aprendizado com falhas. Incentive a equipe a reconhecer e aprender com falhas rapidamente. Transforme os erros em oportunidades de melhoria, garantindo que o aprendizado seja parte integrante da cultura da organização. Isso evita a repetição de erros e promove um ambiente de crescimento contínuo.

 

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