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Em algum momento do semestre ou do trimestre, após uma reunião geral da empresa, você já olhou para os produtos que você é responsável e pensou: “por que estamos fazendo isso?”? Se você, assim como eu, já passou por este momento, te convido a refletir, junto comigo, os erros que normalmente executamos e que podem gerar uma desconexão entre a visão do produto e a estratégia da companhia.
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Antes de mais nada, a desconexão entre a visão do produto e as metas da empresa é extremamente comum. Isso não ocorre necessariamente por falta de qualidade na estratégia, mas sim porque o exercício de criação de uma visão de produto também é um exercício de “previsão do futuro”. Acertar essa previsão não é fácil. Fatores externos à sua visão influenciam fortemente o caminho que ela toma durante sua materialização. Esses caminhos muitas vezes são orientados pelos próprios usuários, concorrentes diretos ou mesmo pelos stakeholders, alterando organicamente a visão do seu produto e, consequentemente, a estratégia da empresa. É possível mitigar os riscos dessa desconexão com algumas ferramentas:
Como dito anteriormente, a visão também é um exercício de previsão do futuro, e criá-la sem ajuda só aumenta os riscos de erro. Por isso, ao iniciar o processo de criação da visão e do entendimento do produto, acolha as ambições de todos os interessados. Entenda como os stakeholders imaginam, o que os usuários pensam, o que o time de operações vislumbra, o que o time de tecnologia entende e não se esqueça de entender também com a camada de alta liderança o que se espera do produto. Chame a pessoa mais próxima do CEO que tem disponibilidade (ou ele mesmo) para que você possa entender como o produto que está sob sua responsabilidade colabora para o que ele imagina para a empresa nos próximos anos.
A partir do momento em que você fez o download da visão de todos, condense em algumas palavras e valide com todos que conversou para entender se todos se sentem contemplados com o rumo que o produto tomará.
Sustentar sua visão com base em “achismos” aumenta a possibilidade de erros futuros, principalmente porque uma visão tem características generalistas e, na hora de materializá-la, diversas interpretações podem ocorrer, desviando seu produto do caminho necessário para atingir as metas da empresa. Por isso, baseie os comportamentos e as percepções adquiridas nas conversas com os interessados em dados concretos.
Quando os usuários deixam claro que querem algo que seja rápido, por exemplo, tenha os dados atuais de carregamento de tela como métricas de acompanhamento. Já quando o CEO diz que esse produto é estratégico para a empresa escalar, entenda uma maneira de medir eficiência operacional da área que usará o produto (mais um exemplo).
Com os números entendidos e correlacionados, discussões futuras se tornam menos passivas a feeling e mais orientadas às necessidades reais descritas, o que nos leva ao terceiro ponto.
A visão sozinha não significa nada. Use algum framework que ajude a correlacionar a estratégia da empresa (descritas como suas metas) com a sua visão. Responda a pergunta “quais dessas metas a minha visão ajuda a alcançar?”. As respostas “todas” e “nenhuma” não são aceitáveis. Tenha claramente a relação de causa e efeito (próximo tópico) entre sua visão e as metas para que consiga responder claramente qual meta aquela visão colaborará.
Recomendo aqui o uso da House of Strategy. Template que auxilia na conexão da meta da empresa com a visão de produto, OKRs do time e iniciativas. Também é possível utilizar a Opportunity Tree para o mesmo fim.
Lembrando que a conexão com a camada “acima” é super importante, mas com a camada “abaixo” também. Se lembre de conectar sua visão com OKRs de Squads e cada Key Result com iniciativas que serão realizadas. Mas isso é assunto para outro artigo.
Uma armadilha clássica desse momento é encontrar relações entre a meta da companhia e a visão do seu produto que verdadeiramente não existem. Isso acontece com frequência quando existe um desejo interno do time de ir para um caminho e tentam encontrar uma “desculpa” para caminhar no sentido que gostariam. Porém, executar o plano desejado nem sempre é o que fará a empresa alcançar suas metas.
Para evitar problemas como este, crie sempre a visão “de baixo para cima”. Não comece pela iniciativa. Se ela realmente se adequar com o momento da empresa, naturalmente ela surgirá após o exercício de criação da visão. Ou seja, comece pelo “porquê” não pelo “como”.
No entanto, mesmo seguindo o fluxo Top Down ainda é possível cair na armadilha de causa e efeito. Por isso, siga a dica 2 com muito cuidado e, caso necessário, se baseie em artifícios estatísticos que medem relação entre duas métricas, como a Correlação de Pearson (lembrando sempre que correlação não é causalidade).
Recentemente aprendi essa estratégia, que mudou muito o nível das conversas que meus times conseguem discutir e remar em prol da visão.
Durante a criação da visão do produto, tenha apoio de uma pessoa de design de produto. Quando todas as conversas, métricas e correlações terminarem, em conjunto, encontrem uma maneira de transformar as palavras da visão em algo palpável. Um protótipo, um wireframe, uma jornada, uma blueprint ou qualquer outro artefato que mostre para todos onde o produto estará quando ele alcançar a visão.
De maneira análoga a frase que escrevemos para a visão, esse artefato será usado de maneira inspiracional. Provavelmente não será ele que será criado, mas com ele todas as conversas se tornam mais orientadas e até mesmo as mudanças que aconteceram durante o processo de materialização da visão são visualmente fáceis de entender, já levando a consideração o trade off de “como esperávamos que seria” versus “como está se tornando”.
Este artefato também auxiliará em um conceito chamado “Design como Requisito”, auxiliando no processo de criação das histórias.
Agora que entendeu para onde vão, é importante que marcos sejam criados para acompanhamento e para que a visão seja revista.
Atrele os marcos com lançamentos de versão ou rollouts para usuários. É muito comum que após esses momentos o que era esperado da visão e o que era desejado pela empresa comecem a se afastar, por isso, use os marcos para que, junto com a equipe, possam repassar sobre a visão e entender se ela ainda colabora para as metas da empresa.
Como boa e velha dica, a comunicação é sempre uma arma poderosa. Não deixe que o bate papo com os interessados pelo produto aconteça só na hora de criar a visão. Mantenha frequência de reports sobre os acontecimentos do produto, bem como conversas estratégicas para entender as metas da empresa podem mudar durante aquele ano.
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