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Como manter as metas de produto alinhadas com os objetivos estratégicos da empresa? Essa é uma questão que todo líder de tech e produto se faz. A chave está em encontrar um equilíbrio entre inovação rápida e os planos de longo prazo da empresa, transformando desafios em verdadeiras oportunidades e assegurando que os esforços estejam em sintonia com as grandes metas da organização.

Essa falta de alinhamento pode levar a um desperdício significativo de recursos e perda de oportunidades no mercado, além de afetar a capacidade da empresa de atender adequadamente às demandas dos clientes. Para mergulhar mais fundo nesse tema, conversamos com Rui Velocci Ramia, Head de Produto na Food To Save. Ele nos traz sua perspectiva sobre como manter todos na mesma página e evitar essas armadilhas, destacando a importância de uma comunicação clara e estratégias bem definidas para manter as equipes de produto alinhadas com a visão da empresa.

BossaBox — Quais são os maiores impactos de longo prazo que você observa quando as metas de produto não estão alinhadas com os objetivos gerais da empresa, e como você trabalha para evitar essa desconexão na Food To Save?

Rui Velocci Consigo identificar dois pontos cruciais como o impacto negativo da falta de alinhamento entre a estratégia de produto e os objetivos da companhia. O primeiro deles, ainda mais em uma startup como a Food To Save, é o desperdício de recursos da empresa, como tempo, dinheiro e esforço do time, que, em muitos casos, são investidos em objetivos opostos aos objetivos da empresa. Na escassez de recursos que muitas empresas vêm passando nos últimos anos, qualquer desvio de rota para soluções que não entreguem valor mensurável aos clientes representa um risco para o negócio inteiro, prejudicando a capacidade da empresa de se adaptar às mudanças do mercado e permanecer competitiva.

O segundo ponto relevante é a desconexão com o cliente no planejamento estratégico de longo prazo da empresa. Essa responsabilidade, na minha opinião, é a principal atividade do time de produto no momento da construção dos objetivos. Quando os objetivos da empresa estão desalinhados com as necessidades e dores dos clientes, perdemos, de maneira intrínseca, a capacidade de entregar valor e gerar receita de maneira sustentável a longo prazo.

Eu gosto de brincar que a nossa responsabilidade, como pessoas de produto, é comunicar a estratégia do produto. Assim como a cultura da empresa precisa ser reforçada em todos os momentos, nós precisamos, diariamente, e em todas as oportunidades, comunicar de maneira clara e transparente qual é a estratégia do produto e quais objetivos estão sendo conquistados em cada entrega do time. Nós utilizamos em todas as documentações um modelo que é obrigatório preencher quais objetivos estão sendo conquistados com essa nova funcionalidade, melhoria ou novo produto apresentado. O time de produto participa de todas as reuniões de planejamento estratégico, o que demonstra ainda mais a nossa força para alinhar objetivos gerais com objetivos de produto.

BossaBox — Poderia descrever a estrutura e a divisão funcional do time de produto dentro da Food To Save? Como essa organização impacta a eficácia e a inovação no desenvolvimento de produtos?

Rui Velocci Hoje, o time de produto da Food To Save é formado por um head, dois gerentes de produto divididos com escopos separados entre B2B e B2C, e um UX/UI que atua nas duas frentes. Por ser um time de produto e tecnologia pequeno, com apenas 11 pessoas ao todo, é importante manter os times bem próximos em quase todas as cerimônias e projetos. Esse alinhamento ajuda na eficácia das entregas, pois a visão dos dois lados do marketplace é representada e analisada lado a lado.

BossaBox — Como Head de Produto, quais são alguns erros significativos que você cometeu no passado e que lições você aprendeu que não repetiria novamente?

Rui Velocci A primeira lição que sempre levo comigo é não deixar a rotina diária e as demandas da operação limitarem a minha capacidade de olhar para fora da empresa e buscar oportunidades no mercado. Muitas vezes me encontrei em posições em que minha agenda não permitia sair para observar de outro lugar o negócio em que estava envolvido. A pandemia me trouxe essa clareza e essa necessidade em cargos estratégicos. Muitos riscos, soluções e entregas de valor estão disponíveis nessa cadeia global de negócios em que estamos inseridos, e é da nossa responsabilidade encontrar as melhores para gerar valor de maneira rápida.

Na posição de pessoa de produto, acredito que nosso maior erro, e que já cometi em certos momentos, às vezes por acreditar que os dados que possuía eram suficientes, ou pela falta de tempo, é não investir o tempo necessário para entender o usuário antes de iniciar qualquer desenvolvimento do produto. Esse tempo investido é essencial para não perder recursos ou precisar mudar a rota na construção do produto durante o processo. Na Food To Save, já cometi o erro de lançar uma atualização do aplicativo com uma nova funcionalidade que impactava os estabelecimentos do marketplace, e não alinhar previamente a data e a comunicação com o time responsável pela gestão dos estabelecimentos. O alinhamento com todos os envolvidos precisa ser constante e fácil para não causar uma dor de cabeça desnecessária.

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BossaBox — Quais são os equívocos mais comuns que podem levar ao fracasso na busca por entregas velozes?

Rui Velocci Existem alguns pontos importantes que precisam ser devidamente priorizados durante todas as fases do produto. Um dos erros mais comuns é subestimar a complexidade dos requisitos, além de negligenciar a qualidade em prol da velocidade. A falta de comunicação com todos os envolvidos é um erro bastante comum, e que com entregas velozes, pode ter um resultado negativo maior em pouco tempo. Também é importante não deixar muitos débitos técnicos no backlog, pois essa escolha pode impactar a escala do negócio em médio prazo. Muitas vezes soluções rápidas, acabam virando um problema quando o assunto é escalabilidade e um time maduro ajuda na escolha e decisão de quais débitos técnicos podem resultar em falhas a curto prazo. Não investir o tempo necessário para conhecer o cliente acaba levando a entregas rápidas sem nenhum valor entregue no final. 

BossaBox — Quais os desafios atuais você destacaria quando o assunto é gestão de time focado em desenvolvimento de aplicativo?

Rui Velocci Vejo no dia-a-dia que manter um time motivado e com o sentimento de dono é o principal desafio na gestão do time focado em desenvolvimento de aplicativo, pois qualquer tipo de bug ou débito técnico, quando falamos de aplicativo, causa um impacto negativo muito grande no uso da plataforma. Por isso, ser cauteloso e criar processos que sustentem esse desenvolvimento é papel fundamental da gestão. Como estamos atuando diretamente com a distribuição do aplicativo por lojas de terceiros, não podemos errar, pois o tempo para realizar uma nova distribuição do aplicativo sem o bug pode ser mortal para um negócio em fase de crescimento. Outro ponto relevante é manter o time engajado, que, em muitos casos, está geograficamente atuando em ambientes, horários e culturas diferentes ao longo do ciclo de desenvolvimento do aplicativo.

BossaBox — Nos últimos anos, quais foram as principais mudanças culturais que você observou nos times de produto?

Rui Velocci A área de produto sofreu nos últimos anos uma avalanche de profissionais em transição de carreira, e como, em muitos cenários, não é uma área que exige conhecimento técnico em tecnologia. Vejo que virou um farol de salvação para muitos profissionais em busca de novas oportunidades e crescimento. Por isso, a área de produto vem se transformando com a entrada de profissionais de outras áreas, o que impacta diretamente na cultura do time. Os times de produto cada vez mais são multidisciplinares e multiculturais. Tenho observado uma cultura de experimentação e aprendizado contínuo, e um foco crescente na experiência do usuário e na entrega de valor rápido.

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