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A tecnologia e a força de trabalho líquida

Há anos, a tecnologia vem se tornando o principal motor de crescimento das empresas. Isso não é novidade pra ninguém. Todas as empresas, incumbentes ou startups, passaram a depender da tecnologia para sobreviver ou para crescer.

A tecnologia tem um papel fundamental na busca por melhores formas de atender às expectativas dos clientes (que é mais exigente e digital), criar novas linhas de receita, trazer mais eficiência financeira e escala para a empresa.

A consequência disso é o crescimento exponencial da demanda por profissionais de desenvolvimento, produto e design que vimos nesses últimos anos. A plataforma de recrutamento de desenvolvedores Code Submit estima que em 2030, a quantidade de vagas de tech não preenchidas chegará a 85 milhões no mundo. É muito valor deixado na mesa (US$8.5 trilhões, para ser preciso).

O problema disso é que, por mais que a quantidade de vagas tenha aumentado, a oferta de profissionais disponíveis para preenchê-las não aumentou. Em 2022, segundo a Computer World, mais da metade das vagas de tech no mundo não foram preenchidas.

 

 

Com isso, as empresas passaram a investir mais em três coisas.

A primeira é educação de talentos inhouse. Uma forma eficiente de combater o gap é formar talentos ou estar próximo de instituições especializadas na educação de profissionais digitais. Mas isso vai ser tema para um outro artigo.

A segunda é investir em escalar seu processo de aquisição de talentos. É importante a empresa conseguir aumentar suas chances de contratar a pessoa certa com menos esforço possível. Daí que vem os investimentos em ATSs, plataformas de recrutamento, ferramentas de testes comportamentais e técnicos etc.

A terceira é investir em retenção e employer branding. Esse estratégia é a mais difícil, mas a mais valiosa por ser difícil de copiar. Os profissionais, tendo cada vez mais poder de barganha, exigem salários mais competitivos, benefícios melhores, culturas mais fortes e um plano de desenvolvimento mais claro. Para conseguir competir com outras do mercado, as empresas investem mais em ter uma boa marca empregadora.

Porém, ainda assim, mesmo depois de tudo que aconteceu com o mercado em 2022 e 2023, ainda existe um gap entre oferta e demanda por talentos. Ou seja, as soluções disponíveis para as empresas para combater esse problema não são suficientes.

Força de trabalho líquida

Uma solução, bem vista por alguns e evitada por outros, é a terceirização de desenvolvimento de software.

Para o bem ou para o mal, a terceirização de projetos de tecnologia é uma estratégia cada vez mais comum em empresas que buscam acelerar entregas e resultados, reduzir custos ou obter acesso a habilidades e conhecimentos especializados. Segundo o MIT, 87% dos executivos de empresas globais consideram profissionais autônomos e consultorias como parte da sua força de trabalho hoje em dia.

 

O conceito de Liquid Workforce foi um termo criado pela Accenture. Não é algo novo, mas sim um novo conceito para descrever a necessidade de empresas, principalmente incunbentes, de verem sua força de trabalho como algo elástico e que não se limita às barreiras físicas da empresa. Para competir, as organizações precisam trazer especialidades de fora e engajar de uma outra maneira com parceiros de tecnologia.

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Porém, antes de tudo, é importante entender quais são os principais modelos de terceirização de desenvolvimento de software, quais são seus principais benefícios e riscos para que você consiga entender qual modelo certo para o momento da sua empresa.

Para isso, vamos separar em dois tipos de classificação. Primeiro vamos falar sobre formas de como uma empresa pode se relacionar com um fornecedor e depois vamos falar sobre modelos de precificação disponíveis a quem quer terceirizar desenvolvimento de software. Para cada um desses tipos, vamos explicar o que são, quais as vantagens e riscos envolvidos.

Modelos de relacionamento com o parceiro

Staff Augmentation

Esse é um dos principais modelos de terceirização de software. O Staff Augmentation é quando uma empresa decide potencializar seu time interno usando profissionais fora de sua estrutura.

Esse modelo pode funcionar muito bem para empresas maduras em produto e que já possuem processos internos que permitem um nível alto de autonomia.

Quais são as principais vantagens do Staff Augmentation:

  • Velocidade para encontrar habilidades específicas que sozinha a empresa demoraria muito tempo e dinheiro para encontrar.
  • Eficiência de custo, uma vez que o funcionário está oficialmente empregado em outra empresa, reduzindo o cost of ownership desse profissional.
  • Menos risco por ter mais flexibilidade e velocidade para expandir/reduzir staffing de um projeto.
  • Ganho de produtividade dos líderes da empresa contratante, uma vez que menos tempo é gasto na contratação, gestão e retenção desses profissionais.

Quais são os principais riscos do Staff Augmentation:

  • Fricção cultural entre time interno e time externo, quando o processo de onboarding e integração não é bem feito.
  • Caso a empresa não tenha processos avançados, colocar mais pessoas vai atrapalhar, uma vez que a necessidade por comunicação e alinhamento também aumenta.
  • Má qualidade do profissional, uma vez que a margem cobrada pela maioria das empresas que trabalham com esse modelo é alta, o que reduz o salário final do profissional e acaba afastando os mais competentes desse tipo de modelo.
  • A maioria dos fornecedores que oferecem Staff Augmentation praticam precificação usando time and materials (hora/homem), um modelo que na nossa opinião já está antiquado e carrega em si uma série de incentivos perversos.

 

Squads Dedicados

Esse tipo de modelo é quando uma empresa contrata um fornecedor para que ele faça a alocação e parte da gestão de um time completo e multidisciplinar. Ele se encontra no meio termo entre Staff Augmentation e Consultorias pois não existe uma unidade produtiva interna que é potencializada (Staff Augmentation), mas o cliente tem responsabilidade com parte da gestão do time alocado, diferente de uma Consultoria.

Uma característica importante desse modelo é a presença de um funcionário do fornecedor executando o papel de gestor e facilitador entre cliente e time.

Quais são as principais vantagens em se ter um Squad Dedicado:

  • Iniciar uma nova frente de um produto existente ou uma nova linha de receita com risco reduzido. Já que o time não é da empresa, mas sim de um fornecedor, existe um ganho em flexibilidade para modelar o time conforme novos aprendizados são descobertos.
  • Maior facilidade em construir um time customizado para atacar um desafio específico. Como todo o trabalho de alocação fica com um parceiro, é mais fácil e rápido ter pessoas experientes no mercado e habilidades necessárias para resolver o desafio da empresa.
  • Ganho de maturidade no time interno focando no core. Quando é bem feito, o time dedicado pode funcionar como um benchmark para o time interno replicar processos e boas práticas.
  • Líderes da empresa contratante podem ser mais estratégicos, uma vez que algumas funções administrativas são terceirizadas para um gestor do parceiro.
  • O custo em contratar e manter um time desse tamanho é menor através do uso de parceiros.

Quais são os principais riscos:

  • O modelo de precificação da maioria dos parceiros que trabalham com esse modelo precisa estar bem alinhado com o que é sucesso para empresa que está contratando. Nesses casos, o modelo de precificação muitas vezes é baseado em escopo ou em horas trabalhadas. Ambos são problemáticos (falaremos mais sobre isso daqui a pouco).
  • Como a comunicação é transmitida por meio de uma figura de gestão do fornecedor, caso essa pessoa esteja engargalada ou falte competências nela, o projeto pode ser ameaçado por conta disso.
  • Alta necessidade de alinhamento e clareza estratégica de qual direcionamento deve ser dado. Caso o cliente não tenha isso claro, muito provavelmente o time não obterá sucesso.

Consultoria

Esse é o modelo mais simples de ser entendido, porém o que eu menos gosto. É quando uma empresa terceiriza 100% do projeto e não executa nenhuma função de alocação e gestão de quem vai executar, apenas entra em momentos específicos para dar feedback, direcionamento e receber status.

Confesso que existe um certo viés aqui pois não sou fã desse tipo de modelo. Mas seguem as principais vantagens e riscos.

Quais as principais vantagens em se trabalhar com Consultorias:

  • Mais tempo para empresa poder focar em outras prioridades.
  • Acesso a parceiros que podem ser especialistas em algo muito específico, algo que a empresa não possui.
  • Comunicação pode ser interpretada com mais simples, uma vez que toda comunicação passa por canais mais claros (Fornecedor <> Contratante) e as responsabilidades estão melhores definidas.

Quais os principais riscos em ter uma Consultoria como parceiro:

  • O custo em se ter uma consultoria alocada pode ser maior do que outras soluções de terceirização, para um valor gerado que não é proporcionalmente maior.
  • A maioria das consultorias trabalha com escopo fechado, o que destrói agilidade e pode ser uma ameaça relevante dado o contexto de mercado que a empresa se encontra.
  • Menor visibilidade e flexibilidade quanto às pessoas desenvolvendo o projeto, uma vez que a contratante não possui contato direto com quem está alocado no projeto e o escopo é fechado.
  • Modelo de consultoria é pouco escalável, o que pode gerar um atendimento ruim (pessoas alocadas em múltiplos projetos) ou necessidade por ter uma margem maior (maior preço).
  • Baixa interação com seu time interno, gerando potenciais problemas de integração e deploy lá na frente.

Na nossa opinião, esse tipo de modelo fez o seu papel. Mas hoje o cenário de mercado é completamente diferente do que há 10 anos atrás. As necessidades e demandas do mercado mudam cada vez mais rápido, além de que novas tecnologias aparecerem todos os dias, o que acelera todo processo novamente.

O problema é que a maioria das consultorias continua trabalhando como se fossem fábricas, não como parceiros de fato. O resultado disso são projetos entregues dentro do prazo (o que raramente acontece) com escopo previamente definido (o que é uma mentira pois o escopo sempre muda), mas que não geram valor nenhum para o cliente.

Modelos de precificação

Análisando as diferentes formas que um parceiro pode precificar seu trabalho, vamos falar sobre as três principais: Escopo Fechado, Time and Materials e Performance-based.

Escopo Fechado

Praticado por grande parte do mercado. A precificação por escopo fechado acontece quando um parceiro passa um orçamento levando em conta os requisitos do projeto e o prazo em que precisa ser entregue. Quais são as principais vantagens e riscos desse tipo de precificação?

Quais são as principais vantagens em pagar com base em Escopo?

  • As pessoas responsáveis pelo processo de compra têm uma sensação de segurança e previsibilidade em comprar usando esse tipo de modelo.
  • O mercado como um todo está acostumado com essa forma de comprar, o que facilita a negociação com stakeholders internos no momento de aprovação de budget.

Quais são os principais riscos de trabalhar com Escopo Fechado?

  • A forma de precificação não está alinhada com o sucesso da empresa. Isso acontece pois (1) a empresa tem um risco alto de demorar mais tempo que deveria para colocar algo na mão dos seus usuários ou (2) de entregar algo que não gera valor nenhum pois não adaptou o escopo durante o processo de desenvolvimento.
  • Flexibilidade muito baixa pois cada mudança de escopo, prazo ou recurso deve passar por uma série de negociações burocráticas com o fornecedor tirando velocidade e adaptabilidade da empresa contratante.
  • Nesse modelo de precificação, a empresa contratante tem a necessidade de escopar todos os requisitos de um projeto antes da parceria começar. Isso remove valor pois aumenta muito time-to-market do produto.
  • A sensação de segurança ao comprar usando esse modelo na verdade é falsa. Pois (1) o escopo sempre muda, (2) o prazo para entregar o escopo raramente é alcançado e (3) nenhuma empresa no mundo consegue estimar o esforço para desenvolver software com precisão, ainda mais antes de começar a desenvolver.

Time and Materials

É quando o preço da parceria equivale ao tempo trabalhado no projeto. Na maioria dos casos, o cliente paga pelas horas trabalhadas em determinada entrega. O modelo é famoso pois a maioria das Body Shops trabalham dessa forma.

Quais são as principais vantagens do Time and Materials?

  • Esse modelo é mais flexível do que o de escopo fechado pois permite a mudança de direcionamento e permite acréscimo ou redução de capacity.
  • É um modelo simples de ser entendido pelas pessoas do mercado e pelo comitê de compras.
  • É mais rápido começar o projeto por ter menos necessidade de escopar todos os requisitos.

Quais são os principais riscos de trabalhar com Time and Materiais?

  • Pouca transparência e precisão no momento de faturamento das horas trabalhadas. O fornecedor tem o incentivo a trabalhar menos e ganhar mais, já o cliente tem o objetivo contrário. Isso faz com que seja difícil garantir que o que está sendo faturado, representa de fato a realidade do que aconteceu.
  • Mais trabalho não quer dizer mais sucesso. Ou seja, a empresa paga mais por algo que não necessariamente gera mais valor. Na verdade, quanto mais rápido alguma coisa é colocada na mão do usuário, mais rápido você vai aprender, o que reduz risco e custo.
  • A pessoa executando tem a percepção de que está sendo punida. Pois, quanto mais rápido a pessoa faz, menos ela ganha.

Uma nova realidade: Precificação baseada em Performance

Acreditamos profundamente que ambos esses modelos, por mais que tenham algumas vantagens, não funcionam mais para as realidades que as empresas encontram hoje. Acreditamos que eles cumpriram sua função quando precisavam, mas que agora temos outras alternativas para se relacionar com parceiros de uma forma mais saudável, para os dois lados.

Na nossa opinião, o modelo que melhor funciona é a precificação com base em Performance.

Isso vem tanto de avanços tecnológicos que permitiram uma análise mais granular da performance de times de produto e de estudos sólidos com relação ao que significa alta performance.

BAIXE AGORA: Checklist – Sinais de uma Squad de Alta Performance

Nossa definição de performance é quando um time produz e se comporta de maneira alinhada às expectativas de valor de uma empresa. Ou seja, é fazer muito bem aquilo que de fato é importante para alcançar um objetivo.

Aqui na BossaBox, por exemplo, nossa definição de performance são as Métricas DORA (criadas pelo instituto do Google focado em estudos relacionados a performance e DevOps). Para ler mais, clicar nesse link.

Em resumo, entendemos como alta performance um squad que:

  • Realiza deploys com frequência (Deploy Frequency);
  • É rápido em fazer novos releases (Cycle Time);
  • É rápido em corrigir falhas em Prod (Mean Time to Recover);
  • Não gera novos problemas em produção a cada novo commit (Failure Rate).

Ao final de uma sprint, essas métricas são calculadas automaticamente e um score é gerado para performance do squad naquela sprint. Caso seja baixa, a empresa ganha uma sprint de crédito e os profissionais/BossaBox deixam de receber. Caso seja alta, os profissionais recebem uma remuneração maior.

Quais são as vantagens de contratar parceiros que usam Performance para embasar preço?

  • Todos os incentivos estão alinhados ao que é valor para o cliente. Existem evidências de anos de teste que essas métricas estão correlacionadas a times que geram valor para as empresas que trabalham. Ou seja, quanto mais performance, maior o preços mas também é maior o valor gerado.
  • Flexibilidade absoluta para adaptar escopo, prazo, time e budget conforme novos aprendizados e realidades são descobertos.
  • Segurança verdadeira pois a garantia e preço pago está diretamente atrelada ao que gera valor de fato.
  • É mais justo com o profissional que realiza a entrega pois o faturamento não está atrelado a um escopo (que não foi ele que estimou) e ao tempo trabalhado (que não é incentivado a trabalhar mais rápido). Isso gera mais satisfação e performance.
  • Facilmente comparável a outros times, internos ou de outros fornecedores, o que eleva a barra de todos.

Conclusão

Terceirizar software pode ser algo muito valioso, como também algo traumático para uma empresa que precisa cada vez mais inovar. Nós acreditamos que a maioria dos modelos a disposição das empresas, por mais que sejam fáceis de entender, estão fundamentalmente errados pois não funcionam para uma realidade que antes não existia.

Dessa forma, precisamos juntos pensar em novas maneiras de contratar e engajar com fornecedores, já que a importância da tecnologia no negócio só vai aumentar. Novas habilidades e demandas aparecem todos os dias. Sozinhas, as organizações não conseguirão entregar o que precisam.

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