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Liderar um time de tecnologia em direção à alta performance é um desafio estratégico fundamental para empresas que buscam inovar e se manter relevantes. Nesse contexto, equilibrar a gestão de times de tecnologia envolve aspectos cruciais como a seleção criteriosa das pessoas certas, o alinhamento estratégico e a avaliação precisa das metodologias de gestão.
Danilo Ferreira, CTO na Ingresse e especialista em Scrum, compartilha insights valiosos sobre os elementos-chave que definem equipes de alto desempenho e os pilares fundamentais para a priorização eficiente de iniciativas no ambiente ágil. Sua visão destaca a importância crucial das pessoas certas, o alinhamento estratégico e a avaliação cuidadosa das metodologias de gestão de times de tecnologia para alcançar o sucesso organizacional.
BossaBox — Na sua visão, quais são os elementos essenciais que definem um time de tecnologia de alta performance?
Danilo Ferreira — Começo contando sobre um exercício que fiz quando estava me certificando em Scrum, em 2009. O instrutor pediu para a sala citar 3 motivos que os projetos (que as pessoas já haviam participado) falharam. Depois, pediu 3 motivos pelos quais os projetos deram certo. A grande maioria respondeu no topo: pessoas. Nisso, o instrutor brincou: Então, se tivermos uma metodologia que podemos inventar agora e chamar de Pikachu Methodology com boas pessoas, vai funcionar? E se houver a melhor metodologia já criada, mas usada por pessoas que não são as certas para o projeto, o que acontecerá?
Isso deixou claro para mim que ter as pessoas certas é a maneira mais efetiva de melhorar a chance de sucesso nos projetos. Mas “ter as pessoas certas” é uma frase muito grande, né? O que isso quer dizer? Quer dizer que as pessoas certas têm a formação técnica certa, os soft-skills certos, sabem trabalhar em equipe e têm uma boa comunicação. Bom, só aí 95% dos times já ficam fora. No entanto, com um bom direcionamento, um bom gestor sabe recrutar e avaliar um time para garantir que esses fatores estarão presentes. Mesmo que seja em maior ou menor intensidade.
BossaBox — Atualmente, quais metodologias de gestão de times de tecnologia você vê como menos eficazes ou relevantes? Por que você acha que elas perderam sua eficácia?
Danilo Ferreira — É uma ótima pergunta e acredito que isso não entra na pauta das discussões como deveria entrar. Começo a responder lembrando que sou certificado em Scrum desde 2009 e até hoje, acho que bem implementado, o Ágil é a melhor ferramenta para times de tecnologia. No entanto, podemos dizer que antes do Ágil, havia majoritariamente a gestão de projetos usando PMBOK ou “Go Horse”.
Com a chegada do Ágil, na minha visão, passamos por alguns estágios que foram de: “entendimento e disseminação”, “como posso vender consultoria para empresas que querem adotar Ágil como uma pílula mágica, mas sem mexer em nada na sua estrutura”, “adoro Ágil porque consigo fingir que adoto para oficializar a bagunça da minha empresa” e finalmente, “Ágil, até a página 2”.
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Sendo assim, respondendo à pergunta objetivamente: o Ágil é a maneira menos eficiente quando ninguém entende, ou quer entender. Costumo dizer para CEOs a seguinte frase: a maneira mais cara de se fazer software é usando o ágil, quando não se sabe o que quer. Usamos toda uma parafernália de MVP, Releases, Slices, que, na verdade, mascaram o verdadeiro problema: não sabemos onde queremos ir e/ou não temos uma equipe que queira fazer as transformações necessárias para ter essas perguntas respondidas.
Quase nenhuma liderança de Produtos hoje tem uma matriz de Business Value clara. Onde fica materializado o que será ganho e que riscos estamos absorvendo fazendo ou não fazendo o desenvolvimento daquele produto.
O Ágil perdeu a eficiência porque as empresas achavam que usar post-it na parede e parecer cool, magicamente as deixariam boas para trabalhar, atraente para talentos e estruturas seriam alteradas na empresa para absorver os novos tempos. Quando juntamos essa miopia das empresas com a indústria de consultorias, os valores do Ágil foram os primeiros que foram despriorizados em detrimento de lousas de Kanban e post-its coloridos.
No entanto, veja que interessante. Se você me perguntar qual é a metodologia mais eficiente para se fazer software, eu diria: Ágil. Isso quer dizer que a escolha de referências, guias, boas práticas, profissionais e empresas que levam a sério o tema é essencial e é a diferença entre gastar dinheiro ou ganhar dinheiro com esse tema.
Importante: Assim como hoje temos a IA como pauta praticamente onipresente em qualquer discussão de futuro ou preocupação de executivos, anteriormente vimos o metaverso sendo pauta, o Ágil passou por esse momento na década de ’10. Então temos que colocar essa perspectiva na análise. Como hoje todo mundo quer dizer que usa IA, na década de ’10, toda empresa queria falar que era moderna e usava Ágil. Ainda que sem entender sobre o assunto.
BossaBox — Quais métricas você considera mais relevantes e eficazes para medir o desempenho e a eficiência de uma equipe de tecnologia, levando em conta tanto aspectos quantitativos quanto qualitativos?
Danilo Ferreira — Para responder a essa pergunta, temos que dar um passo para trás e entender o processo de desenvolvimento de software ou mesmo tecnologia, de maneira geral. Esse processo envolve um componente muito difícil de se mensurar, que é o aprendizado. O time precisa entender o ambiente, as maneiras que as pessoas trabalham com os repositórios, quais os padrões de código.
Tudo isso, muitas vezes, não é documentado em nenhum lugar. As pessoas têm que tentar montar um quebra-cabeça para então começar a fazer as perguntas certas e a partir daí mostrar produtividade. Esse componente de subjetividade faz com que não possamos ter uma métrica universal e atemporal sobre desempenho e eficiência.
No entanto, na vida real, avaliamos desenvolvedores usando pilares como velocidade de desenvolvimento, qualidade de código, cumprimento de prazos e soft-skills para trabalhar em equipe. Mas, veja que interessante, será que é possível uma startup que tem 1 ano de vida ter o mesmo critério desses pilares que uma empresa de 20 anos? Claro que não.
Então outro componente de subjetividade é necessário nessa equação, que é: dado esses pilares, o quanto é possível nesta empresa buscar a excelência para cumprir esses critérios. Por exemplo, cumprimento de prazos. Em uma startup, os requisitos/estórias são muito menos detalhados. Como, com poucos detalhes, podemos ser precisos em estimativas?
É aí que entra um bom trabalho de gerente de engenharia. Ele precisa entender esse contexto subjetivo e materializar os critérios que avaliará os engenheiros. Uma vez que isso é feito, é essencial que esses critérios sejam comunicados para que todos saibam qual é a regra do jogo.
BossaBox — Como garantir que a equipe de tecnologia esteja sempre alinhada com as necessidades e objetivos do negócio, evitando lacunas ou desalinhamentos?
Danilo Ferreira — O primeiro ponto é ter a liderança da empresa alinhada com a ideia de que você pode até não ser uma empresa de tecnologia, mas usa tecnologia para vender o seu produto/serviço. Isso quer dizer que nem toda empresa podemos dizer que tecnologia é o core. Mas mesmo assim, a tecnologia representa um papel estratégico incontornável. O segundo é ter um time de tecnologia interessado. Não só em tecnologia, mas no dia-a-dia da empresa e nos problemas que os outros departamentos têm que envolvem tecnologia.
Com isso, cria-se cerimoniais, eventos, que continuamente trazem problemas que estão acontecendo e colhem do time de tecnologia pontos de vistas com possíveis soluções.
BossaBox — Quais são os pilares que você considera essenciais para priorizar iniciativas de forma ágil e eficiente?
Danilo Ferreira — É muito difícil não responder ao aumento de lucratividade. Seja com maior faturamento ou redução de custos. Costumo dizer que nada é mudado em uma empresa se você não conseguir materializar o quanto de dinheiro está sendo deixado na mesa ou o quanto está se gastando/desperdiçando com uma atividade. Acredito que reuniões do time de Produtos com as áreas e com a liderança da empresa são essenciais para construir a proposta de um Business Value claro (ou o mais claro possível) para a empresa enxergar e entender a prioridade das iniciativas de forma transparente
BossaBox — Quais são os principais desafios que você enfrenta ao liderar um time de tecnologia em um mercado tão dinâmico e competitivo como o de entretenimento?
Danilo Ferreira — Produtividade. Acredito muito no trabalho remoto. Mas o fato é que muitas pessoas desaprenderam a trabalhar com esse modelo. Mesmo assim, pós-pandemia, tenho cerca de 90% da equipe de tecnologia em regime remoto. Muitas vezes até em outros países. Isso é maravilhoso! No entanto, como medimos a produtividade dos profissionais está cada vez mais uma zona mais nublada. É necessário revisitar esse tema permanentemente. Seja pelo modelo de trabalho, seja por avaliarmos que diferentes gerações trabalham de maneira diferente, etc. O fato é que Tecnologia é um dos times mais caros que a empresa terá. Se temas como resultados e produtividade não são uma pauta recorrente na liderança, muito provavelmente há desperdício de dinheiro.
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