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E se lhe dissessem que o futuro dos negócios está sendo moldado agora, neste exato momento? Com 52% dos CEOs acreditando que seus modelos de negócio não serão viáveis em uma década, a IA emerge como a resposta para essa incerteza, como revela uma pesquisa da PwC.

A IDC projeta que até 2027 as 5 mil principais empresas da América Latina destinarão 25% de seus gastos principais de TI em IA generativa. O boom da IA está aqui, trazendo consigo benefícios, vantagens e, é claro, uma série de mitos a serem desmistificados.

Se você é um líder de equipe de tech e produto, a integração da IA não é mais uma escolha, mas uma necessidade urgente para impulsionar resultados. Para explorar o potencial revolucionário da IA, convidamos Renata Gagetti, Diretora de Produto na OLX Brasil, para compartilhar sua visão e responder 6 perguntas fundamentais sobre como a IA pode impulsionar equipes e resultados.

BossaBox — Como você enxerga o potencial da inteligência artificial na otimização do processo de gestão de times de produto e tecnologia?

Renata Gagetti — A inteligência artificial tem, e terá cada vez mais, um potencial significativo na otimização do processo de gestão de times de produto e tecnologia. Um livro que eu li recentemente, Human + Machine: Reimagining Work in the Age of AI resume brilhantemente quando fala que a IA vai deixar melhor o que as máquinas precisam fazer, que é otimizar e deixar mais eficientes atividades que precisam ser repetidas várias vezes e com números grandes de dados, enquanto o homem foca no que a inteligência humana sabe fazer melhor do que qualquer outra, lidar com imprevistos e adaptações (em tradução e interpretação livre).

Porém, vale destacar o impacto da  IA em tarefas diárias dos nossos times  de tecnologia:

– Análise de dados e insights: Como já falamos, a IA pode processar grandes volumes de dados gerados pelos times de produto e tecnologia para identificar padrões, tendências e insights relevantes. Isso pode ajudar os gestores a tomar decisões informadas e estratégicas;

– Previsão de demanda e recursos: Algoritmos de IA podem ser usados para prever a demanda por produtos e recursos necessários. Isso pode nos ajudar a planejar melhor a alocação de recursos e evitar gargalos;

– Automatização de tarefas repetitivas: Muitas tarefas administrativas e operacionais podem ser automatizadas com IA, liberando tempo para os gestores se concentrarem em atividades mais estratégicas. Isso inclui coleta e análise de dados, agendamento de reuniões, gerenciamento de documentos, entre outros – aqui especificamente em Tech podemos falar de escrever histórias e códigos básicos de programação também, além da automação de testes, a identificação de possíveis problemas de qualidade e a otimização de processos de entrega contínua;

– Melhoria da colaboração e comunicação: Ferramentas de IA, como chatbots e assistentes virtuais, podem também facilitar a comunicação e colaboração entre os membros da equipe, fornecendo respostas rápidas a perguntas comuns, agendando reuniões e compartilhando informações relevantes.

BossaBox — Quais são os equívocos mais comuns que você percebe sobre o papel da IA no desenvolvimento e na gestão de produtos?

Renata Gagetti — Embora não seja um conceito novo em tecnologia (usamos algoritmos retroalimentados para prever os mais diversos  comportamentos há mais de 50 anos), é muito recente a democratização de IA na maioria das empresas, portanto a gente se depara com vários equívocos comuns sobre o papel da inteligência artificial (IA) no desenvolvimento e na gestão de produtos / gestão de empresas, e muitos (senão todos!) tem como fator comum a “simplificação de um conceito complexo”: 

“IA substituirá completamente os seres humanos”: Um erro comum e superficial é pensar que a IA substituirá totalmente os seres humanos seja no que for, mas principalmente na criação e gestão de produtos. Na realidade, a IA é mais eficaz quando trabalha em conjunto com humanos, complementando suas habilidades e fornecendo insights valiosos para ajudar na tomada de decisões.

“IA resolverá todos os problemas automaticamente”: Essa crença de que a IA pode resolver automaticamente todos os problemas no desenvolvimento e na gestão de produtos é um tanto quanto inocente. Embora a IA possa automatizar muitas tarefas e fornecer insights úteis, ainda é necessário o envolvimento humano para interpretar os resultados, tomar decisões estratégicas e garantir a qualidade do produto.

“IA é uma solução única e universal”: Algumas pessoas podem pensar que a IA é uma solução única e universal para todos os problemas no desenvolvimento dos produtos. No entanto, diferentes problemas podem exigir abordagens diferentes de IA, e nem sempre é a solução mais adequada -muitas vezes existem soluções mais simples e mais baratas que chegarão nos mesmos resultados; 

“Implementar IA é fácil e rápido (e barato!)”: Por fim – mas não menos importante –  muitas empresas subestimam os desafios envolvidos na implementação eficaz da IA como solução. Isso pode incluir desafios técnicos, como a integração com sistemas existentes, bem como desafios organizacionais, como a necessidade de treinamento e mudança cultural dentro da equipe. Implementar IA com sucesso requer um planejamento cuidadoso e investimento de recursos adequados.

BossaBox — Quais são as expectativas da alta liderança em relação à capacidade da equipe de produto de aproveitar as oportunidades trazidas pela IA para impulsionar a inovação e a competitividade da empresa?

Renata Gagetti —
Para a alta liderança o que é mais  importante é que a equipe de produto seja ágil, inovadora e orientada para resultados. Isso envolve não apenas o desenvolvimento e a implementação eficazes de soluções de IA, mas também a capacidade de gerar valor tangível para os clientes e para o negócio como um todo.

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É esperado, mais do que ficar repetindo palavras e conceitos prontos de IA para explicar absolutamente tudo, que o time seja capaz  de analisar os reais problemas em profundidade, pensar em soluções dentro de uma matriz de complexidade Vs resultado e, se soluções que integrem IA façam sentido, que haja o desenvolvimento de soluções eficazes de maneira a (realmente!) gerar vantagem competitiva.

Dois outros fatores importantes é que o Product  Manager seja capaz de se manter constantemente conectado ao que está acontecendo no mercado para a identificação de oportunidades de aplicação da IA, seja melhorando processos existentes ou criando novos produtos ou serviços. Além  do constante monitoramento de métricas de desempenho – em qualquer lançamento de produto isso se faz necessário, com Inteligência Artificial não seria (e não é!) diferente.

BossaBox — Quais são os maiores desafios que você enfrenta ao liderar uma equipe de produto em um ambiente cada vez mais orientado por tecnologias de IA?

Renata Gagetti —
Estamos todos aprendendo a trabalhar e liderar em tempos de acesso a IA e isso não é uma exclusividade de nós em tech. Como empresa, estamos literalmente fazendo um voo super audacioso (e divertido), enquanto estamos trocando  as  asas da aeronave e aprendendo a ler o cockpit. 

Porém eu destaco 3 principais pontos de atenção que vejo nessa adoção de IA como solução e ferramenta em produtos:

1) Habilidades técnicas dos profissionais: Encontrar e reter talentos com habilidades técnicas em IA pode ser um desafio, especialmente considerando a demanda crescente e a escassez de profissionais qualificados neste campo;

2) Gerenciamento de expectativas: As expectativas em torno do potencial da IA podem ser altas, e é importante gerenciá-las de maneira realista. Isso inclui educar as partes interessadas sobre as capacidades e limitações da tecnologia, bem como comunicar de forma transparente os resultados e o progresso alcançados, quase que “educando” toda a empresa com o que é possível (ou não!) fazer;

3) Custos e retorno sobre o investimento: Investir em tecnologias de IA não é barato (precisamos repetir isso algumas vezes!). É importante garantir que os investimentos estejam alinhados com os objetivos estratégicos e que ofereçam um retorno tangível sobre o investimento a longo prazo.

O mais importante é mantermos, como time de tech, o direcional de sermos ágeis, adaptáveis e centrados em resolver problemas reais dos nossos usuários, buscando constantemente maneiras de alavancar as tecnologias de IA para impulsionar a inovação e criar valor para o negócio como um todo.

BossaBox — Com o surgimento de diversas tecnologias emergentes, como metaverso, NFTs e inteligência artificial generativa, quais você considera as mais promissoras e com maior potencial de impacto na gestão de times?

Renata Gagetti — Para mim, todas essas tecnologias têm potencial para impactar a gestão de times de forma significativa, seja melhorando a colaboração e comunicação, autenticando ativos digitais ou automatizando a criação de documentos e conteúdos em escala.

Créditos: Divulgação

O desafio para os gestores é entender como essas tecnologias podem ser aplicadas de maneira eficaz em seu contexto específico e garantir que elas sejam utilizadas de uma forma que agregue valor real às operações da equipe e aos resultados da empresa. Digo isso porque tem muito conceito sendo repetido como solução para tudo, sem realmente existir uma analise crítica e aprofundada do problema real, das possíveis soluções e dos custos/complexidades técnicas envolvidas.

O metaverso como um espaço virtual onde as pessoas podem interagir, trabalhar, criar e consumir conteúdo. É inegável que, se bem trabalhado, tem o potencial de transformar a forma como as equipes colaboram e se comunicam.

Os NFTs são opções claras de alternativas à gestão de times, especialmente no que diz respeito à autenticidade e propriedade de ativos digitais. Eles podem ser usados para rastrear e autenticar documentos, contratos e outros ativos digitais dentro de uma equipe ou organização, proporcionando transparência e segurança.

Terminando por onde começamos, a Inteligência Artificial Generativa tem em si o potencial de revolucionar a criação de conteúdo, desde imagens e vídeos até música e texto. Na gestão de times, isso pode se traduzir em ferramentas e plataformas que automatizam a criação de peças de marketing, designs de produtos, protótipos e muito mais, economizando tempo e custo de  desenvolvimento.

Muitas coisas vão ser lançadas nos próximos anos e cada vez mais  discutiremos o impacto destas e de outras tendências nas nossas vidas e dos nossos times.

BossaBox — Quais são as melhores práticas que você adota para promover uma compreensão mais precisa e alinhada das responsabilidades e contribuições da equipe de produto na organização?

Renata Gagetti — Não é trivial o trabalho de conseguir passar constantemente a ideia do real impacto na companhia, do que está acontecendo na squad X e para conseguirmos isso se faz necessário um trabalho constante (mesmo!) de comunicação, transparência  e repetição. 

Começando do início: Planejamento integrado entre áreas! É necessário que a partir do direcional macro da empresa (no meu caso dos OKRs) que produto fale com marketing, comercial e atendimento… Que as áreas saibam quais são seus focos e suas interdependências. Costumo falar  para os meus times que não adianta aparecer no início do ano e sumir nos demais meses, “quem não é visto,não é lembrado” e esse contato com as demais áreas é fundamental. 

Cultura de transparência e prestação de contas dentro da equipe de produto, incentivando a abertura e a honestidade na comunicação e garantindo que todos os membros da equipe sejam responsáveis por seus resultados e contribuições, dentro e fora da squad. Apresentação de resultados, além de “vender” nossa área para as demais da empresa, ainda exige o exercício de entender os impactos e mensurá-los e isso vai trazendo uma maior noção para os times do real impacto do que eles estão entregando.

Solicitar/dar feedback regularmente dos membros da equipe de produto e outras partes interessadas sobre como as responsabilidades e contribuições da equipe de produto estão sendo percebidas e onde podem ser feitas melhorias. 

Como eu falei, não é do dia pra noite que conseguimos criar cultura de produto e maturidade de relações (entre pessoas, áreas e resultados) nas organizações. Mas a continuidade de ações faz  com que cada dia estejamos mais perto e que os times se sintam mais seguros como um todo. 

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